Uma expressão se tornou largamente conhecida por definir um sentimento característico da nossa época: o medo de ficar de fora. Com a invasão maciça de informações recebidas via internet, ficamos com o vívido pressentimento de estar perdendo algo. Permanecendo uma ou oito horas diante das telas, a impressão é recorrente: estou me alienando, podem me excluir. Sim, o mundo se movimenta bem mais do que, por exemplo, na Idade Média. Passamos a experimentar uma necessidade emocional (quase fisiológica) de saber tudo em tempo real. Uma frase repetida à exaustão nas rodas de conversa é esta: “Você sabia o que aconteceu com...”. Informação passou a ser uma maneira de mostrar fidelidade a um dos princípios geradores de admiração: o da constante atualização. Quais serão os benefícios que isto pode trazer? Agora, é inequívoca a certeza de termos nos tornando ansiosos demais. Podemos nos esforçar muito, porém, sempre restará a forte noção de atraso. O que fazer para minimizar essa sensação nem um pouco agradável?
Em primeiro lugar, mantenha a convicção de ser impossível acompanhar todas as mudanças ao redor. Devemos filtrar o essencial e perceber que a roda da vida continuar girando, saibamos ou não o que está se passando no momento neste vasto, tão vasto planeta. Sou seduzido pela ideia de recolhimento, contenção, estabelecendo limites para compreender um universo informacional propenso a se expandir de forma absurda. Enxergamo-nos incompletos, embora opinando tanto. Pobre do que hesita ao ser indagado sobre isso e aquilo. Impomo-nos a obrigação de estar de olhos abertos em busca de alguma novidade. Porém, por maior o empenho, sentiremos esse famigerado aguilhão, consequência de se estar aquém. Alguns amigos parecem querer duelar conosco. Uma observação aleatória gera uma saraivada de dados da parte deles. Cansa.
Observo esse desconforto acentuado nos jovens. Rolam a tela de seus smartphones sem parar. Mas é tudo tão rápido — mal dá para assimilar as imagens. Sobrepostas a centenas de outras, logo acabam sendo esquecidas. Talvez esse fenômeno não seja irreversível, queira Deus. Sou otimista quanto à capacidade de supressão de determinados comportamentos. A consciência dos malefícios trazidos pode ser o início de uma transformação salutar. Se o fenômeno dessa overdose de fatos tivesse se dado a cinco ou doze séculos atrás, através de algum mecanismo semelhante ao da virtualidade, provavelmente teria ocorrido o mesmo às pessoas. Cada geração deve trabalhar questões que lhe são pertinentes. Temos recursos internos para entender com clareza o entorno. Reconheçamos os benefícios de uma boa condução neste quesito. Será pedagógico.
Acredito na capacidade de nos blindarmos contra determinadas tendências. A vida está ligada a exigências bastante complexas, para além da absorção de conteúdos banais. O pensamento humano é imbricado. Sejamos fiéis depositários daquilo que contribui para a expansão da consciência. O resto serve apenas para disfarçar a nossa fome pelo supérfluo. É preciso resistir.