Um amigo diz estar lendo um livro com o título deste texto. Engraçado, pensei, nem Ele escapou de ser uma referência para os exaustos confessos desses dias. Se bem que não deveria sentir tal espanto. No ano passado, procurando por um shampoo em uma farmácia, deparei-me com algo semelhante. Logo abaixo da marca estava escrito: ideal para cabelos estressados. Bom, pensei, se até eles precisam de tal cuidado, a coisa está pesada mesmo. Considero o mérito de quem se propõe a oferecer uma solução (duvidosa) para esse tipo de problema. Porém, olho com certa incredulidade um processo quase mágico para solucionar algo já instalado até no inconsciente.
A tarefa é árdua e meia dúzia de conselhos motivacionais ou o tratamento dos folículos capilares terão zero eficácia. Implico com a ideia de fórmulas prontas para resolver desde enxaqueca até uma doença terminal. Sou curioso por temas relacionados à ciência e ao cérebro e o caminho para uma descoberta consistente em qualquer área demora anos, ou mesmo décadas.
É impressionante como hoje tudo vira produto. Pessoas, principalmente. Abra um aplicativo e será bombardeado por trezentas e vinte propagandas vendendo o inimaginável. Aí, com esforço, começa a fechar uma sequência de janelas e um razoável tempo depois, irritado, chegará ao resultado da sua busca. Muitos dirão: “Sem chance, não me deixo influenciar”.
Pode ser que o efeito sobre a sua psique demore mais, mas em algumas circunstâncias irá se lembrar do produto visto quando estava só querendo saber onde se situa geograficamente o Cazaquistão. Alguns minutos depois, num descuido só explicado por Freud, está enchendo seu carrinho virtual de tralhas que provavelmente nunca irá usar. E o filho de Deus apenas irá sorrir e pensar: Eu avisei.
É possível ter duas atitudes diante deste mar de ofertas: viver relativamente afastado disso (difícil) ou ampliar a consciência a ponto de saber com clareza o que é essencial (possível), separando-o do descartável. Esse trabalho precisa ser renovado a cada momento, pois a tendência de comercializar o mundo — e um terreno em Marte — só vai aumentar.
Vale aqui o velho e sábio ensinamento estoico: se você não se contenta com pouco, não vai se contentar com nada. A capacidade de abdicar das paixões tristes — dependentes de um objeto exterior, segundo o filósofo Espinosa — está ligada ao grau de satisfação extraído de nossa própria companhia. E de nem se afetar com as demandas de uma época em que a contemplação, sem a posse, foi expulsa do catecismo dos vitoriosos. Bem-aventurados os que se mantêm eternamente produzindo, até morrer de exaustão — eis o novo mandamento!
Sim, vamos continuar reclamando e invocando santos e divindades de todos os credos, com rara chance de virem nos socorrer. Creio que tudo depende disso: da conduta adotada defronte uma realidade tornada tantas vezes excessiva. Um passo precisa ser dado: transformar o conhecimento em ação.
Deixe espaços em branco na sua agenda. Caso contrário, nem Jesus e menos ainda um produto poderão te auxiliar.