Tenho uma renovada preocupação na vida: a de jamais invadir o espaço de privacidade alheia sem aviso prévio. Se sou convidado a visitar a casa de amigos, procuro me deter o tempo mínimo para usufruir de suas companhias. A elegância se situa no limite entre a convivência íntima com quem queremos bem e a capacidade de saber quando devemos nos despedir. Sempre fui zeloso em relação a isso e me parece ser uma conduta civilizada. É um código específico da nossa época, o de respeitar a intimidade do outro, pois historicamente vivemos sem demarcar essas fronteiras. Lembremos da Grécia antiga, modelo para pensarmos o ideal humano. Para os cidadãos das grandes cidades, a existência acontecia nas Ágoras, locais públicos onde se discutia o que era importante, desde política até filosofia. E se analisarmos o período colonial brasileiro, veremos imagens de casas sem separações por peças em seu interior, como as de hoje. Conclusão: vamos moldando o olhar sobre o mundo com base em determinadas regras ditadas pelo senso coletivo.
Reafirmo para mim, a cada dia, a importância de não tardar.
Minha amiga Flora Magnabosco, mulher de refinado gosto, escreveu um breve e precioso manual de etiqueta – chamada por muitos de pequena ética. Em suas páginas encontramos sugestões de como nos portar nas mais variadas ocasiões. É algo distanciado do aprisionamento, como alguns podem crer. Simplesmente mostra um caminho de adesão aos códigos vigentes na sociedade, pressuposto de civilidade. Durante a leitura, revisei várias lições de como me conduzir nas múltiplas situações descritas. Em tantos casos, aprendemos pela observação direta, seguida de repetição. Mas existe uma maneira bem simples de assimilar isso: observando o exemplo dos mestres nesta arte. Estou fazendo essa referência para sublinhar a ideia de todos precisarmos ser humildes e reconhecer a relevância de nos pegarem pelas mãos, conduzindo-nos em busca do melhor. E nisso entra também a gentileza em se despedir, se possível, antes do previsto, deixando os anfitriões confortáveis. Convenhamos, é ruim, ao término da festa, perceber que alguns seres avulsos insistem em lhe dar continuidade. Dica: desligue, discretamente, o disjuntor da luz. Afinal, isso pode acontecer mesmo, né?
Há um velho adágio sugerindo sair da mesa com um pouco de fome, evitando os excessos alimentares. Treinemos a partir de hoje. E quem pergunta se não está incomodando, mas com ares de querer ficar, geralmente tem intenções de se perpetuar. Recomenda-se essa atitude: discrição. Falando num tema afim, em ambientes onde as pessoas se soltam, relaxam, bebem, como é agradável encontrar quem se permite usar um tom de voz abaixo da turma barulhenta.
Em dias de hiperconexão, nada é mais invasivo do que obrigar os próximos a ouvirem nossas conversas. Ou preferência musical. Opte pelo certo: contenha-se. Subtraia, reduza, afaste-se ou poderá se tornar persona non grata. A delicadeza é um modo de ser e agir que nunca sairá de moda. Pergunte para a Flora.