
O uso de carvão ativado para o tratamento de água potável é considerado eficaz e não oferece riscos à saúde, de acordo com especialistas. O método voltou a ser adotado pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) nesta segunda-feira (10), com o objetivo de minimizar alterações no gosto e no cheiro da água em Porto Alegre.
Conforme o Dmae, o carvão ativado será utilizado como uma das etapas do tratamento de água nos sistemas São João e Moinhos de Vento. A técnica era adotada em todas as Estações de Tratamento de Água (ETAs) de Porto Alegre até 2012, quando foi substituída pela aplicação de dióxido de cloro.
O departamento esclareceu que os insumos agem de forma diferente: enquanto o carvão ativado atua por um fenômeno físico de adsorção dos compostos odoríferos, o dióxido de cloro age de forma química para reduzir as alterações sensoriais na água.
Usado em outros países
Rafael Linden, professor de Toxicologia nos cursos de graduação e programas de mestrado e doutorado da Universidade Feevale, afirma que o carvão ativado tem a capacidade de retirar as substâncias orgânicas que estão dissolvidas na água, como essas que estão dando gosto e cheiro alterados para o líquido. Isso ocorre porque essas substâncias ficam retidas na superfície do carvão, que é sólido.
O docente acrescenta que o método é usado também em outros países para remover os chamados poluentes persistentes ou emergentes — como produtos químicos e fármacos — que estão presentes na água. Por isso, considera o carvão ativado um tratamento “bem efetivo” para a água.
— O carvão ativado não é absorvido pelas pessoas. Nesse sentido, é muito seguro. Só tem efeitos adversos para pessoas que ingerem grandes quantidades, e aí podem ter constipação e alterações gastrointestinais. Mas nessa pequena quantidade que vai estar na água não vai ter nenhum efeito adverso nas pessoas — explica.
Método "muito antigo e eficaz"
A médica infectologista e coordenadora do Controle de Infecção da Santa Casa de Porto Alegre, Teresa Sukiennik, concorda que o método é “muito antigo e eficaz” para melhorar o gosto da água e ressalta que o carvão ativado não é tóxico, sendo utilizado inclusive em hospitais.
— Ele não oferece risco à saúde, a não ser que esteja saturado e deixe de cumprir sua função, como qualquer outro filtro. Pode ter uma possibilidade de crescimento bacteriano se ele não for trocado regularmente, porque aí passa a abrigar bactérias que vão contaminar a água. Mas é um filtro efetivo e recomendável para tratamento de água potável, só precisa de manutenção como qualquer sistema — destaca Teresa.
Conforme a especialista, o carvão remove muitos contaminantes, como compostos orgânicos, pesticidas e produtos químicos. Na Santa Casa, o método é utilizado como uma das etapas para filtrar águas de diálise, que precisam ser superlimpas, sem nenhum resíduo.
— Usamos dois filtros: um de carvão ativado e um de osmose em sequência. Isso é feito há décadas, então, não existe risco nenhum. E essa água (da diálise) entra em contato com o nosso sangue, não é nem para ingerir pela boca. Ou seja, não existe nenhuma contraindicação sobre usar o carvão ativado. Pelo contrário, com a manutenção realizada, está tudo certo — finaliza a infectologista.
É assinante, mas ainda não recebe as newsletters com assuntos exclusivos? Clique aqui e inscreva-se para ficar sempre bem informado!