
Mais de 3 milhões de casos e 43 mil mortes decorrentes do coronavírus foram registrados no Rio Grande do Sul desde o início da pandemia, há cinco anos. Isso faz com que o território gaúcho ocupe a terceira posição entre os Estados brasileiros com maior número de infecções por covid-19, sendo o quinto com mais óbitos, conforme dados do Ministério da Saúde.
O primeiro caso da doença no Rio Grande do Sul foi confirmado em 10 de março de 2020 — um dia antes da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar pandemia. Já a primeira morte ocorreu no dia 24 do mesmo mês. De lá até 17 de fevereiro deste ano, o território gaúcho acumulava 3.161.071 contaminações e 43.196 óbitos pela doença.
Somente em Porto Alegre foram mais de 348 mil casos e 6,8 mil mortes, segundo dados do painel de monitoramento da Secretaria Estadual de Saúde (SES). Além da Capital, as nove cidades com maior número de contaminações são:
- Caxias do Sul
- Pelotas
- Canoas
- Santa Maria
- Passo Fundo
- Rio Grande
- Novo Hamburgo
- Santa Cruz do Sul
- São Leopoldo
Cenário envolve diversos fatores
O infectologista Alexandre Schwarzbold, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), comenta que há algumas hipóteses sobre o que motivou o RS a ocupar o terceiro lugar entre os Estados com mais casos. Uma delas está relacionada à população vulnerável: o número de pessoas idosas e imunodeprimidas que vivem no território gaúcho é proporcionalmente maior do que o observado em outras localidades do Brasil.
Schwarzbold aponta que a resposta dos serviços de saúde é outro fator importante, devido à dificuldade de estruturar locais que pudessem acolher devidamente os pacientes com doença respiratória grave fora da Capital — o que também reflete na quantidade de mortos. Acrescenta, ainda, que houve obstáculos no acompanhamento da circulação viral, como a demora na detecção e na vigilância genômica de novas variantes.

O elemento sazonal também se soma a esses fatores, já que, com o longo período de frio, a circulação de vírus respiratório costuma ser mais prevalente. Além disso, na visão do especialista, o Estado teve muitos casos em números absolutos porque o isolamento funcionou “parcialmente”, deixando a desejar nas fases iniciais, quando deveria haver um rigor maior para evitar a transmissão:
— O modelo de distanciamento controlado, querendo ou não, também flexibilizou muito as situações. Era um modelo que visava muito mais a tentativa de flexibilizar e de não engessar tanto o isolamento social, e que sempre pegava muito tardiamente as situações de casos, ao ponto de que a disseminação existia mas, quando detectava, era um pouco tarde.
Vacinação foi divisor de águas
Alessandro Pasqualotto, chefe do Serviço de Infectologia da Santa Casa de Porto Alegre e presidente da Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI), relembra que o início da pandemia foi marcado por períodos muito difíceis, porque havia diversas incertezas sobre a doença para a qual não se tinha nenhum tratamento disponível na época.

Ele reforça que este cenário foi mudado "drasticamente" com a chegada das vacinas, que fizeram com que o número de casos e a mortalidade por covid-19 despencasse.
— Foi uma catástrofe de enormes proporções e que ninguém esperava. Não só em relação à velocidade de disseminação do vírus, mas às mortes associadas. E acho que tardamos a iniciar uma campanha de vacinação e a dar suporte e credibilidade à importância das vacinas. Existiu muita oposição de pessoas que acreditavam que as vacinas não traziam segurança, mas foram justamente elas que controlaram a epidemia — destaca Pasqualotto.
O presidente da SGI acrescenta que, apesar de ter se tornado uma doença aparentemente banal, a covid-19 segue matando — idosos e pessoas não vacinadas ou com doenças crônicas são as principais vítimas. Reforça, ainda, que o Rio Grande do Sul é afetado por vários vírus respiratórios durante os meses mais frios, o que aumenta a necessidade de atenção.
— A covid ajudou a trazer à tona a importância dos vírus respiratórios como causadores de doença grave. Mas ainda tem pouca gente se vacinando. As pessoas já nem se testam mais e seguem transmitindo. É compreensível que as pessoas tenham flexibilizado suas ações em relação à covid, mas especialmente os vulneráveis têm que seguir se vacinando.