
Entre 2021 e 2022, o Rio Grande do Sul atingiu os maiores números de casos confirmados e mortes causados pelo coronavírus. A pandemia de covid-19, iniciada em 2020, chegou ao seu auge naquele período, com mais de 26 mil mortes em 2021.
A pandemia de coronavírus foi anunciada pela Organização Nacional da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020. Um dia depois, a primeira morte pela doença foi registrada no Brasil. De lá para cá, foram 715.295 vidas perdidas. No entanto, há redução no número de mortes ano após ano, por uma combinação de fatores que envolve transformação do vírus, vacinação e novos protocolos.
No ano passado, o RS teve 65.082 casos confirmados da doença, o menor índice desde o começo da pandemia. Já o número de mortes causadas pelo coronavírus teve um recuo médio de 74% desde 2022.
— Um vírus, após entrar na espécie humana, vai levar um tempo para ir se adaptando. E na medida em que vai evoluindo a imunidade da população, a gente percebe uma manifestação cada vez mais branda (do vírus). Isso é fruto dessa adaptação e da imunidade natural desenvolvida pelas pessoas. Com as vacinas, a gente apressa esse processo. Na medida que se desenvolve esse conjunto de imunidade dado pela vacinação e por uma ou outra infecção em cima de um indivíduo vacinado, cada vez se tem uma doença mais branda — explica Fernando Spilki, virologista e professor da Universidade Feevale.
Perfil do paciente
Diferente dos momentos de alta de internações e mortes, nos últimos anos e, principalmente após o acesso à vacinação, o coronavírus passou a incidir mais fortemente sobre públicos mais restritos. O perfil atual do paciente com covid-19 costuma incluir, conforme o professor Spilki, pessoas com ciclo vacinal incompleto, com alguma comorbidade e, geralmente, com idade mais avançada:
— A covid-19 ainda é a SARS (síndrome respiratória aguda grave) que mais interna pacientes. Os dados nos mostram uma redução dos casos e mortes, mas esporadicamente ainda há, principalmente nesse perfil.
Protocolos mantidos ou alterados
Cinco anos depois, algumas medidas de proteção adotadas durante a crise sanitária seguem sendo adotadas pelos hospitais. Zero Hora procurou cinco das principais instituições da capital, que relataram ter mantido estratégias e estruturas criadas a partir de 2020. A manutenção envolve protocolos de testagem, isolamento e digitalização de atendimentos.
O uso de máscaras deixou de ser obrigatório em áreas hospitalares da capital no início de 2023. Desde então, seu uso passou a ser fortemente recomendado pela prefeitura. Os hospitais mantêm a recomendação, principalmente em ambientes mais suscetíveis a contaminação, como nas emergências.
O isolamento foi outro protocolo que se alterou. Inicialmente, a recomendação era de que pacientes infectados permanecessem até 15 dias em local isolado para evitar a transmissão do vírus. Agora, esse período tem variado de cinco a sete dias.
No caso da Secretaria Estadual de Saúde (SES), a orientação é para que o isolamento seja mantido ao menos por até sete dias após o aparecimento dos primeiros sintomas. Em Porto Alegre, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) dá a mesma recomendação. Especialistas apontam a mudança para um período mais curto por se tratar do tempo máximo que o vírus consegue ser transmitido.
— Esse período de transmissão vai sendo reduzido especialmente para as pessoas que melhoram rapidamente. Então, hoje se considera, principalmente, a melhora dos sintomas como o principal fator para a saída das pessoas do isolamento. A partir de cinco dias, aquelas pessoas que não têm mais sintomas não estão mais transmitindo o vírus — afirma Fabiano Ramos, médico infectologista e diretor técnico do Hospital São Lucas da PUCRS.
A secretaria da Saúde de Porto Alegre informa que “a pandemia trouxe mudanças estruturais no sistema de saúde municipal. Algumas delas incluem reforço na vigilância epidemiológica, mais estratégicas de vacinação e campanhas de conscientização, bem como testagem rápida/antígeno e PCR nas unidades de saúde, além de permanentes capacitações, garantindo maior preparação para futuras crises sanitárias”.
Legado nos hospitais
Uma das principais marcas deixadas pela pandemia no Estado foi o aumento do número de leitos para internação em unidades de terapia intensiva.
Leitos UTI – antes da pandemia
Adulto
- Particular - 1.603
- SUS – 975
Pediátrico
- Particular – 269
- SUS – 193
Neonatal
- Particular – 520
- SUS – 352
Leitos UTI – pós-pandemia
Adulto
- Particular – 2.124
- SUS – 1.293
Pediátrico
- Particular – 298
- SUS – 203
Neonatal
- Particular – 529
- SUS – 348
Isso (o aumento) se repete em várias regiões. Não foi um crescimento vegetativo comum. Inclusive, porque se a gente olhar o período pregresso da década anterior, por exemplo, não se tinha essa evolução. Sempre foi muito complicado gerar leitos. Nem todos os leitos adaptados à época da pandemia se mantiveram como leitos de UTI, mas a gente sabe que sim, que houve um legado importante. Algumas regiões hoje têm mais do que o dobro de leitos de UTI
FERNANDO SPILKI
Virologista e professor da Universidade Feevale
O que ficou da pandemia nos hospitais
O Hospital Santa Casa de Misericórdia diz ter mantido o fluxo de atendimento e coleta de exames dos pacientes com sintomas respiratórios, seja por covid-19 ou por outros vírus, que possuem critérios baseados em suspeita clínica.
No caso do atendimento pediátrico, por exemplo, se quem está com a criança apresente sintomas respiratórios, ela também é isolada de outros pacientes até a confirmação do acompanhante. O mesmo ocorre para a coleta de exames em recém-nascidos caso a mãe teste positivo para covid-19 nos dias próximos ao parto.
No hospital Nossa Senhora da Conceição uma das principais mudanças é a testagem dentro das emergências para pacientes suspeitos, além do aumento do rigor para o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI´s). O Grupo Hospitalar Conceição, que atende os hospitais Conceição, hospital da Criança, Cristo Redentor, Fêmina e a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Moacyr Scliar, destacou ainda o legado na digitalização, com o implemento de prontuários eletrônicos.
O hospital Moinhos de Vento ressaltou que muitos protocolos já eram adotados antes da pandemia com pacientes imunossuprimidos, mas que com a proliferação da covid, passou a reforçar o controle de infecção hospitalar. Também foi adotado o uso de máscara para todos os pacientes. Além disso, o hospital orienta que familiares e visitantes também utilizem a proteção. Houve a criação de um laboratório, que já estava sendo planejado antes da pandemia, mas que teve sua construção antecipada para aumentar o ritmo de diagnósticos. Atualmente, ele funciona tanto para doenças infecciosas como para a área de medicina de precisão.
No Mãe de Deus, o uso de máscara passou a ser recomendado para entrar na emergência. Uma prática criada na pandemia que se manteve foi a separação de pacientes com sintomas respiratórios dos demais, chamado de fluxo azul. Também permaneceu a obrigatoriedade na coleta de RT-PCR, considerado um teste mais preciso e que leva mais tempo para mostrar o diagnóstico.
Por fim, o hospital de Clínicas afirmou que a maioria das medidas de risco de infecção “já estavam presentes mesmo antes da pandemia, e são constantemente adaptadas conforme questões epidemiológicas atuais”. Para o hospital, o principal legado foi em relação ao preparo no atendimento em grandes emergências, como o caso das enchentes, em maio de 2024.
Calendário vacinal
Atualmente não há mais campanhas específicas para vacinação contra covid-19. Em dezembro, o Ministério da Saúde atualizou a estratégia de imunização, incluindo a aplicação no Calendário Nacional de Vacinação. Isso significa que o reforço na proteção passa a ser adotado com uma determinada periodicidade conforme cada público. Na época da pandemia, as doses eram liberadas a partir da oferta de vacinas, priorizando as pessoas mais vulneráveis.
Pessoas a partir de 60 anos devem se vacinar a cada seis meses, enquanto as gestantes devem receber uma dose a cada gestação. Já os demais grupos prioritários devem ser vacinados a cada ano. A exceção são os imunocomprometidos, que também devem ser vacinados uma vez por semestre.
São considerados prioritários: pessoas vivendo em instituições de longa permanência; indígenas; ribeirinhos; quilombolas; puérperas; trabalhadores da saúde; pessoas com deficiência permanente; pessoas com comorbidades; pessoas privadas de liberdade; funcionários do sistema de privação de liberdade; adolescentes e jovens cumprindo medidas socioeducativas; e pessoas em situação de rua.
Para as crianças com menos de 12 anos, o esquema vacinal varia conforme o tipo de imunizante. As crianças que iniciam o esquema com a vacina da Pfizer deverão receber três doses do imunizante, com intervalos de quatro semanas entre a primeira e a segunda dose; e de oito semanas entre a segunda e terceira dose. Já as crianças que iniciaram o esquema com a vacina da Moderna devem concluir o esquema de duas doses com esse mesmo imunizante, com intervalo de quatro semanas entre a primeira e a segunda dose.