
Cinco anos é tempo suficiente para encarar com estranhamento alguns hábitos importantes na pandemia, mas que, após o período mais perigoso da emergência sanitária, foram gradualmente deixados de lado pela população — ou pela maior parte dela.
Vestir máscara hospitalar no dia a dia, manter o distanciamento social e borrifar álcool gel nas sacolas do supermercado são exemplos que parecem agora de um passado distante.
Outro exemplo, o trabalho remoto, é um caso mais complexo. Se na época da covid-19 este foi o modelo adotado por boa parte dos setores da economia, nos últimos tempos muitas empresas passaram a solicitar que seus colaboradores voltassem ao presencial.
Em algumas organizações, o trabalho híbrido consolidou-se como um ponto de equilíbrio entre a necessidade de ter os funcionários presentes e o desejo dos colaboradores de trabalhar em casa.
— O trabalho remoto funcionou naquele período da pandemia, mas agora percebemos essa mudança de rota. Cada vez mais as empresas exigem que os colaboradores retornem para trabalhar presencialmente ou de forma híbrida — observa Ana Cecília Petersen, consultora do PUCRS Carreiras.
Um dos motivos apontados para esse movimento, relata a consultora, é a necessidade de fortalecer a cultura organizacional, ou seja, a incorporação de um senso de pertencimento e de alinhamento aos valores da empresa.
Ana observa que o retorno ao presencial tem sido "decepcionante" para alguns profissionais, especialmente os da chamada geração Z (nascidos aproximadamente entre 1997 e 2012).
— As pessoas valorizam essa flexibilidade do formato home office: poder almoçar em casa, não ficar duas horas no trânsito. Muitos desejam ficar pelo menos no modelo híbrido.

Exercícios físicos
Se o trabalho remoto diminuiu, mas não sumiu, algo semelhante ocorreu com o exercício físico por videoaula.
A necessidade de manter a saúde em dia durante o período de isolamento social levou muitas pessoas a fazerem academia remotamente, seja em formato ao vivo ou com aulas gravadas.
Na falta de equipamentos em casa, alguns utilizaram objetos do dia a dia: garrafinhas d’água e sacolas com compras no lugar dos pesos, por exemplo.
Hoje, o modelo remoto de academia é utilizado principalmente por pessoas com comorbidades ou idosas, explica Alessandro Gamboa, presidente do Conselho Regional de Educação Física do Rio Grande do Sul (CREF2/RS). A maioria dos que fizeram academia por videoaula na época, estima ele, voltou ao modelo presencial.
— Hoje, as academias têm mais alunos do que antes da pandemia. A emergência sanitária reforçou a importância do exercício para a saúde, pois a pessoas ficaram cientes do papel da atividade física no combate a comorbidades que as colocavam no grupo de risco.
Para os que ainda se exercitam com orientação remota, Gamboa alerta que o formato de aulas gravadas não permite que o professor veja como o exercício está sendo executado pelo aluno para poder corrigi-lo.
— Sem dúvida, o modelo presencial com o professor ao lado é o mais seguro de todos. É quando ele pode atuar mais na proteção do aluno, tanto na prevenção de lesões quanto no controle de problemas orgânicos, porque pode medir a pressão e a frequência cardíaca na hora, por exemplo.
Higiene das mãos é fundamental
Poucos hábitos marcaram tanto a pandemia quanto o uso generalizado de máscara. A oferta era farta: máscaras cirúrgicas, N95 e até mesmo de pano, que vinham em várias cores e opções de estampas.
A coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Caroline Deutschendorf, reforça que hoje a máscara é necessária para pessoas com algum sintoma respiratório ou imunidade comprometida, por exemplo:
— É importante as pessoas lembrarem que, quando estão doentes, devem usar máscara, porque protegem todos ao seu redor.
Em termos coletivos, as vacinas são fundamentais. (...) E é importante ressaltar que são seguras
CAROLINE DEUTSCHENDORF
Coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Outro hábito, o álcool gel, deixou de ser utilizado com a frequência exigida na pandemia. Mas Caroline alerta que a higiene das mãos segue sendo fundamental:
— Se tomarmos o cuidado de higienizar as mãos antes de colocá-las na boca, nos olhos, no nariz ou antes de nos alimentarmos, vamos nos proteger de contaminações.
Entre tantos "não legados" da pandemia, um que deve permanecer é a consciência sobre a importância da vacinação. A médica observa que a desinformação que circulou na época "atrapalhou muito o julgamento das pessoas", mas que "a população brasileira, de modo geral, é muito adepta das vacinas".
— Em termos coletivos, as vacinas são fundamentais. Mudaram o rumo da população no mundo inteiro em relação a várias doenças. E é importante ressaltar que são seguras — conclui Caroline.