O número de cobradores de ônibus exercendo a atividade no transporte público de Porto Alegre vem diminuindo mês a mês. De acordo com a Empresa Pública de Transporte e Circulação (ETPC), 76% da frota da Capital — três em cada quatro ônibus — opera sem a presença desse profissional, e a projeção é de que, até o final do ano, a função seja extinta.
Levantamento da Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP) aponta que 580 cobradores estão na ativa atualmente. Em agosto do ano passado, eram 773, distribuídos entre as frotas da Carris e das 11 empresas que formam os consórcios MOB, Viva Sul e Via Leste.
Segundo nota da ATP, desde 23 de novembro de 2021, 34,41% dos profissionais foram realocados dentro das empresas que compõem os consórcios (leia a íntegra abaixo). Parte em vagas internas, como oficina, almoxarifado, chapeação e até mesmo o cargo de motorista. O restante deixou as companhias por aposentadoria, demissão ou recolocação em outros locais de trabalho.
A Carris não informou número nem percentual de profissionais realocados na empresa desde a ampliação do processo de remoção dos cobradores, iniciado em 2022, e da privatização da empresa.
Segundo o gerente de planejamento da operação de transportes da EPTC, Flávio Tumelero, as empresas encaminham diariamente tabelas com o cronograma de viagens com ou sem cobradores para informar o andamento do quadro.
"A tecnologia veio com tudo, e uma hora teria que acabar", diz ex-cobrador
Cleber dos Santos, 40 anos, foi cobrador durante 15 anos na empresa Nortran, em Porto Alegre. Conhecido entre os colegas de trabalho como "Bambam", ele faz parte de uma das companhias que integra o Consórcio MOB, responsáveis pelas viagens de ônibus na zona norte da Capital.
Com o início da retirada gradual dos profissionais do sistema de transporte público da cidade, Cleber recebeu uma nova oportunidade em setembro de 2024: deixar a função para virar mecânico na empresa.
Ele já tinha cursos na área, o que permitiu que iniciasse a nova rotina dentro da companhia antes do previsto, que era o início de 2025.
— Hoje é só agradecer. A rotina melhorou da água para o vinho. É na questão de horário, remuneração e até adaptação. Na oficina é mais braçal, enquanto no ônibus foram 15 anos sentado. Saí do sedentarismo — conta.
Segundo Cleber, esse não é o único plano para o desenvolvimento da carreira dentro da empresa; o objetivo é que ele se qualifique com mais cursos. Quanto ao futuro, um dos desejos é abrir uma oficina.
A adaptação levou um tempo, mas fui acolhido. Sair da função de cobrador era algo inevitável. A tecnologia veio com tudo e uma hora teria que acabar. Cobrador não é mais profissão. Agora, eu vou seguir indo atrás dos meus planos.
CLEBER DOS SANTOS
Ex-cobrador que virou mecânico na Nortran, em Porto Alegre
Adaptação e preparação
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A assistente social Claudia Pereira Santana, que atende os consórcios MOB, Mais e Via Leste, explica que o processo de realocação dos profissionais busca, dentro das habilidades e vontades, qualificar os cobradores. São oferecidos cursos para que tenham oportunidades dentro das empresas, ou, em outro caso, encaminhar o futuro abrindo o próprio negócio.
— Desde 2022, quando começamos o processo, estamos fazendo o acompanhamento. Todos que podemos qualificar, oferecemos os cursos. Até para saber quais são os seus planos de vida depois da etapa de cobrador — diz.
Leia nota da ATP
"As empresas de ônibus de Porto Alegre mantêm o compromisso de oferecer oportunidades de recolocação aos seus colaboradores, com foco especial nos cobradores, proporcionando capacitação específica para a função de motorista. Além disso, os trabalhadores do transporte coletivo têm acesso a diversos cursos gratuitos oferecidos pelo Sest Senat, ampliando suas possibilidades de qualificação profissional.
Desde a implementação da Lei Municipal nº 12.910, de 23 de novembro de 2021, aproximadamente 34,41% dos cobradores foram realocados dentro das empresas, garantindo a continuidade de seus vínculos empregatícios. O restante saiu por diferentes motivos, como aposentadoria ou recolocação em outras áreas do mercado de trabalho.
As empresas de transporte coletivo reafirmam seu compromisso com a modernização do setor e com o apoio à qualificação e transição profissional de seus colaboradores, sempre buscando alternativas para garantir o equilíbrio entre a eficiência do serviço prestado e a valorização da mão de obra."
Leia nota conjunta da EPTC e da Carris
"A Carris mantém o percentual mínimo de cobradores em suas linhas, conforme os parâmetros estabelecidos em Lei nº 12.910, de 2021. A lei estabelece a extinção gradativa da função de cobrador no transporte coletivo da capital, com redução de 25% dos profissionais nessas funções ao ano, até 2025. De acordo com a EPTC, em janeiro de 2025, 76% das viagens de ônibus em Porto Alegre são realizadas sem a presença do cobrador."