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Mais de mil empresas foram criadas em Caxias do Sul no ano passado em relação a 2023. Ao todo, são 1.049 novos CNPJs — principalmente de microempreendedores individuais (MEIs), mas também de companhias limitadas (LTDA) —, que são liderados pelo ramo dos serviços, com 978 empreendimentos. Indústria teve um acréscimo de 118 negócios, enquanto o comércio perdeu 47.
Os dados são reunidos e divulgados pela Junta Comercial, Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul (JucisRS). De acordo com o órgão, os números ilustram um crescimento contínuo na constituição de empresas no município e uma resiliência do ambiente empreendedor local diante de desafios como a pandemia da covid-19 e as chuvas extremas de maio do ano passado.
Isso porque, com exceção de uma retração, em 2022, o índice fecha positivo pelo menos desde 2020:
A presidente da JucisRS, Lauren Momback Mazzardo, aponta que Caxias do Sul se destaca, nestes últimos cinco anos, como o segundo maior polo empreendedor do Estado, atrás apenas da Capital. O município da Serra fechou janeiro, por exemplo, na frente de Canoas, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Pelotas e Santa Maria, entre as cidades que mais constituíram empresas no RS.
A expansão de negócios em Caxias é puxada pelo segmento de serviços e por MEIs.
"O setor de serviços foi predominante em todos os anos, representando mais de 60% das empresas constituídas de 2020 a 2022. Em 2023 e 2024, esse percentual superou os 70%, reforçando a tendência de crescimento do setor na cidade", afirma Lauren, por meio de nota.
Ela atribui o crescimento no registro de negócios, ainda, a ações específicas do governo do Estado que favorecem o ambiente empreendedor ou servem de apoio contra calamidades, como o Plano Rio Grande.
Alinhado à economia local
O incremento em novas empresas é proporcional ao crescimento da economia da cidade observado em 2024, segundo o diretor de Planejamento, Economia e Estatística da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias (CIC Caxias), Tarciano Mélo Cardoso.
— Se olharmos o que (a economia de) Caxias cresceu, mais de 6% no ano passado, faz sentido também no número de CNPJs, falando principalmente de serviços. O tipo de serviço prestado na cidade tem um viés de expansão também na quantidade de locais, não só crescimento dentro da mesma unidade — assinala.
Cardoso vê razões para a notabilidade de serviços na "conquista" de territórios pelo setor, na guinada da preferência do público pela experiência em vez da compra de um bem, e no crescimento recente da massa salarial.
— O que entendemos que gerou esses efeitos: um deles é a abertura de novos espaços, sem contar MEI. Percebemos pela cidade estabelecimentos de prestação de serviços, de atendimento ao público, diferentemente de uma vez que você via abrir um comércio, uma loja. Outro fator talvez seja alguma mudança cultural, de hábitos de consumo da população. Aquela questão que você tinha de comprar um bem, um lar, um veículo, você acaba investindo em alguma coisa mais imediata, que vai te beneficiar por um momento, que é a utilização de um serviço — exemplifica o diretor da CIC.
A experiência em primeiro lugar
Um complexo cultural e gastronômico abriu as portas em outubro do ano passado, em Caxias do Sul, com o intuito de proporcionar ao cliente novas experiências. De que forma? Oferecendo cafés especiais, cervejas artesanais e comidas frescas de produção própria em um ponto que conta com a circulação majoritária do público jovem.
É o Beco do Dude. Fica na esquina das ruas Francisco Getúlio Vargas e Ângelo Segalla, no território da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Antiga sede do bar Juranda's, o pavilhão de pouco mais de 700 metros quadrados foi repaginado estruturalmente — e visualmente, com grafites, pinturas e acessórios descolados.
O empreendimento contou com investimento de R$ 2 milhões dos empresários Luciano Vargas, Guilherme Dossin e Jocemar Gross, que são detentores, também, de Dude Brewing, Dude Coffee e Rango do Dude, marcas agora reunidas no beco.
— O objetivo é trazer experiências diferentes para os usuários. Quando você toma um café, não importa qual seja, você espera um café torrado, aquele gostinho amargo. Não na nossa ideia. Queremos trazer possibilidades de novos sabores: tem café floral, frutado, adocicado. As experiências são diferentes entre cada um deles — ilustra Vargas.
O mesmo vale para a cerveja, de acordo com o sócio-proprietário:
— Temos a pilsen tradicional porque o cliente quer, mas tenho uma cerveja que simula um brigadeiro de amendoim e outra que lembra um affogato, que é um sorvete com (café) expresso.
A Dude Coffee surgiu em 2019 e já torrou e lançou mais de 120 variedades de café, enquanto a Dude Brewing nasceu dois anos depois, com elaboração de rótulos de forma terceirizada e, em um segundo momento, com equipamento próprio. Tudo isso foi unificado no beco: a magia acontece no andar inferior e, acima, a clientela aprecia os produtos, com visão privilegiada da fábrica.
— Começamos como uma indústria, porque a gente compra um café verde e transforma num café torrado. A mesma coisa a cerveja, compramos os insumos e fazemos ela aqui. A essência é uma indústria, mas resolvemos ter o nosso bar, a nossa cafeteria, para entregar dentro daquilo que acreditamos ser o melhor para o produto. É importante termos o nosso serviço para as pessoas conhecerem o potencial do que produzimos — detalha Luciano Vargas.
O preço parte de R$ 5 pelo café coado (170ml), passando por R$ 16 pelo affogato (150ml), até R$ 34 pelo irish coffee (200ml). É possível adquirir, no local ou pelo site, cafés embalados e cervejas em lata do Dude, além de camisetas, copos, taças e outros itens.
Chegando em quatro meses de operação, o primeiro desafio do estabelecimento foi as férias universitárias, conforme o empresário Luciano Vargas. O período, entre dezembro e fevereiro, resultou em uma baixa de 30% no faturamento. Houve uma surpresa positiva, entretanto, porque o valor faturado absoluto foi maior do que o imaginado pela gestão.
Sendo assim, o planejamento para 2025, segundo ele, é consolidar o negócio, de olho no que o cliente curte do cardápio para fortalecer, "em um ano de organização, testes e pesquisa".
Outras dificuldades, na ótica do sócio-proprietário, estão ligadas à alta no custo do café e à carga tributária do Estado:
— Hoje, no Rio Grande do Sul, a gente sofre com um imposto maior do que o restante do Brasil. Você paga uma alíquota interestadual (vendendo para fora do RS) em torno de 13%. O Estado precisa começar a equiparar ao resto do país — diz.
Por outro lado, as raízes com o maior município da Serra motivam Vargas e os colegas a empreender aqui:
— Caxias do Sul é a nossa cidade, então existe um amor pelo nosso local de nascimento. O gaúcho é bairrista, e nós também somos.
Para acompanhar a rotina por lá, acessa o @beco.do.dude no Instagram.
Inovação no bem-estar animal
— A proposta que a gente tem é de criar diversos serviços associados ao pet, com foco não somente no pet, mas também no tutor.
É assim que o sócio-proprietário e adestrador Eliézer Barbosa define a missão do CT Pet Center, um complexo em que os animais de estimação são protagonistas, no bairro Sagrada Família.
O espaço possui 1,2 mil metros quadrados e oferta aos pais e mães de pet adestramento e recreação caninos, atendimento veterinário, banho e tosa, day care, hotel e reiki para cães e loja de produtos. O "foco no tutor", como cita Barbosa, é porque o local conta com cafeteria, sala de espera e espaço infantil.
— Caxias do Sul é um setor para o meio pet que não para de crescer. Cada vez mais as pessoas estão optando por ter mais pets e optando por não ter um filho neste momento. É o local ideal, além de ser um povo que é muito amoroso com seus pets — justifica o empresário, que mantém o negócio ao lado das sócias Marta Facchin e Gabriela Zucco Nadin.
Barbosa revela que o investimento foi de R$ 2,5 milhões em um estabelecimento indoor, que deixe os bichinhos livres para brincar apesar da chuva, da neblina típica serrana ou do calor intenso, como nas últimas semanas. Ele destaca como diferenciais na estrutura o isolamento acústico em espaços e o sistema de troca de ar por exaustão.
Além disso, há videomonitoramento 24 horas e monitores em tempo integral. A equipe é composta, atualmente, por em torno de 10 colaboradores especializados.
— É o único espaço pet com troca de ar por exaustão no Brasil. O isolamento acústico, temos esse espaço que é calmo para eles não ficarem escutando trovões e fogo de artifício, que para alguns cães é traumatizante. Só o fato de ter o isolamento acústico no teto já resolve todo o problema do eco (do latido) e eles não ficam se estressando — observa o sócio-proprietário.
A carta de serviços dá opções para pagamento em pacotes mensais e trimestrais ou avulso, sendo que o valor depende, também, do porte do animal. O day care em turno integral custa a partir de R$ 70, enquanto o hotel sai de R$ 98 e, um banho, de R$ 60.
Não é exagero dizer que o CT Pet Center saiu do papel rapidamente: no final de 2023, o grupo de empresários projetava o empreendimento, que foi estruturado ao longo do ano passado e já inaugurado em setembro. São cinco meses em atividade, com um resultado de faturamento que está superando as expectativas, conforme Barbosa:
— Tínhamos uma perspectiva de crescimento interessante, e estamos acima do percentual projetado, em uma média de 15% a 20% ao mês. Vamos alcançar o ponto de equilíbrio até mesmo antes do que a gente esperava. Isso só comprova o quanto o mercado pet em Caxias do Sul está aquecido.
Ainda em 2025, a expectativa é por ampliações. Estão no radar a abertura de um gatil — um hotel para gatos — e de um bloco cirúrgico. Mais adiante, em médio a longo prazo, Barbosa prevê a construção de uma piscina para cães.
No Instagram, o @ctpetcenter divulga as novidades.