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No primeiro dia de atividades nos Países Baixos, o governador Eduardo Leite e o prefeito de Porto Alegre Sebastião Melo ouviram de uma das principais autoridades para águas locais os princípios para se viver em harmonia com rios e mares. Meike van Ginneken, enviada especial para a água nos Países Baixos, elencou à comitiva brasileira três pontos fundamentais para evitar enchentes e detalhou a mudança de perspectiva pela qual passa a Holanda nas últimas décadas.
O movimento político mais complexo, segundo a autoridade holandesa, é inserir o cuidado com as águas no centro do planejamento das cidades:
— Tornar a água e o solo princípios orientadores no nosso planejamento espacial. Politicamente, essa é provavelmente a parte mais difícil. Aqui, adotamos uma política que coloca a água e o solo como princípios fundamentais no planejamento do uso do território. Isso gera debates sociais difíceis sobre onde as pessoas podem viver, especialmente em áreas de planícies alagáveis. Sempre proibimos construções nessas áreas. Com o tempo, nos tornamos menos rígidos, e os riscos de enchentes aumentaram — disse van Ginneken.
O segundo ponto destacado pela holandesa à comitiva do Rio Grande do Sul foi o de proteger os rios da destruição ambiental:
— A segunda coisa que precisamos fazer é restaurar e proteger nossos ecossistemas hídricos. Porque esses são, na verdade, nossos reservatórios naturais. Eles não têm apenas um valor intrínseco, mas nossos pântanos, aquíferos, lagos e rios são onde podemos armazenar o excesso de água quando chove demais ou quando há risco de enchentes. E também são onde podemos armazenar água para enfrentar períodos prolongados de seca — apontou van Ginneken, lembrando que os Países Baixos vivem chuvas cada vez mais fortes e verões cada vez mais secos, por conta das mudanças climáticas.
O terceiro ponto destacado pela holandesa ao longo de 25 minutos de fala diz respeito ao investimento necessário em sistemas de proteção:
— Precisamos das melhores tecnologias e da melhor engenharia. E essas tecnologias precisam estar disponíveis para todos: para todos os países, todas as cidades. Ao longo desta semana, vocês terão a oportunidade de conhecer algumas das melhores tecnologias e soluções de engenharia que os Países Baixos têm a oferecer. Mas sabemos que tecnologia e engenharia, por si só, não são suficientes para realmente adaptar nossos países e comunidades às mudanças que estamos enfrentando — afirmou van Ginneken.
Ao detalhar os três princípios, a autoridade holandesa afirmou que os Países Baixos, nos últimos 30 anos, passaram por “uma revolução cultural” na relação com os rios, evitando apenas drenar a água e passando, paulatinamente, a ampliar os espaços para os rios:
— Aprendemos que não podemos lutar contra a água, não podemos lutar contra a natureza. Precisamos, na verdade, aprender a conviver com a água. Precisamos construir junto com a natureza. E o que vocês verão aqui é essa nova abordagem: o uso de tecnologia e engenharia, a restauração de reservatórios naturais de água e a incorporação da água no planejamento territorial — resumiu a autoridade holandesa.
O sistema de gestão na Holanda, detalhou a enviada especial para águas, é composto por autoridades hídricas regionais eleitas diretamente pela população. Essas comissões regionais têm o poder de cobrar tributos da população para manter de pé o sistema de proteção.
— Nossa expectativa aqui, além de olhar soluções do ponto de vista tecnológico e de engenharia, é a de nós nos debruçarmos sobre a governança. Isto é como os Países Baixos lidam com a gestão destas estruturas. Financiamentos, incentivos a sistemas de drenagem e a governança que envolve a sociedade — destacou o governador Eduardo Leite, após o primeiro evento com holandeses.
Na mesma atividade, realizada na manhã desta sexta-feira (21), Leite e Melo apresentaram aos holandeses os impactos da enchente de maio de 2024 e as medidas que estão sendo adotadas, desde então, para melhorar os sistemas de proteção contra cheias. Durante a tarde, ainda na sede da agência governamental de promoção de negócios dos Países Baixos, 11 empresas holandesas apresentaram à comitiva gaúcha produtos e serviços relacionados à resiliência climática e proteção contra cheias.