Enquanto a prefeitura de Porto Alegre aguarda que empresas demonstrem interesse em adotá-la, a tradicional Praça Otávio Rocha, no Centro Histórico, segue vandalizada e com sinais de abandono.
Pessoas em situação de rua se abrigam sob a cobertura do espaço que já foi uma cafeteria e que deveria ser um dos principais atrativos do espaço público, no encontro da Rua Alberto Bins com a Avenida Otávio Rocha.
A praça havia sido adotada ainda em 2023 pela incorporadora Infinita, que reformou o antigo Hotel Plazinha, localizado em frente. Algumas intervenções foram feitas, mas a empresa desistiu da obra. Entre as justificativas para a decisão estiveram atos de vandalismo cometidos no local. Um edital em busca de outra empresa foi publicado pela prefeitura no final de 2024, mas não houve interessados.
O secretário municipal de Parcerias, Giuseppe Riesgo, diz que a prefeitura não tem planos para lançar um novo edital de adoção da praça. Segundo ele, na última tentativa, apenas uma empresa procurou o município para obter informações, mas não formalizou a proposta.
— Só faremos um novo edital se aparecer alguém sondando. Não podemos ter o risco de dar deserto novamente — comenta o secretário.
Quem adotar a praça pode explorar comercialmente um espaço destinado a operações de gastronomia. Em 2019, a prefeitura construiu paredes de tijolos nos acessos a este local, para evitar que fosse utilizado como abrigo por pessoas em situação rua. Ao adotar a praça, a Infinita derrubou essa barreira, porque pretendia instalar ali uma cafeteria.
Na tarde desta sexta-feira (21), três pessoas dormiam no local coberto. Questionado se o espaço do café pode voltar a ser bloqueado, o secretário Riesgo respondeu:
— Até existe a possibilidade, mas não queremos fazer isso. Não cabe a mim. A ideia é que a praça tenha vida, que tenha movimento no local — diz.
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Na última tentativa para atrair interessados em continuar o trabalho de revitalização, a prefeitura flexibilizou a contrapartida. O último chamamento envolvia a cafeteria e o seu entorno. No entanto, o adotante poderia prever um projeto apenas para parte dessa área externa, como a recuperação do paisagismo, da pavimentação do local ou dos equipamentos voltados a crianças — desde que o orçamento previsto seja de aproximadamente R$ 4 mil por mês, valor estipulado pela prefeitura como uma espécie de aluguel do espaço. O que a empresa não realizasse, a prefeitura faria.
Buracos e cheiro forte
Quando adotou o espaço, em 2023, a incorporadora Infinita projetou investir R$ 500 mil na revitalização da Praça Otávio Rocha. Ao desistir, já em 2024, afirmou ter gasto R$ 200 mil, em ações como pintura e troca de partes do piso histórico.
Meses depois, o calçamento de pedras portuguesas apresenta buracos, que prejudicam a mobilidade.
— Estou indo fazer exames, prefiro vir por este lado da rua do que do outro pois aqui acho menos movimentado. Mas tenho que ficar olhando para baixo para desviar de algum buraco — diz a aposentada Arlete Castro de Souza, 76 anos, que atravessava a praça na tarde desta sexta-feira (21), de bengala, para chegar à Rua Alberto Bins.
A principal queixa dos frequentadores, no entanto, é o forte cheiro de urina.
— É horrível. Não sei como deixam um espaço como este jogado deste jeito. Nunca traria meu filho para brincar aqui — diz o vendedor Carlos Silva, 42, que estava sentado em um dos bancos da praça durante o intervalo do trabalho.
Estruturas de concreto em volta da praça estão bem pintadas de cor amarela. Brinquedos novos chegaram a ser instalados e a grama parecia ter sido recém cortada. Quem faz este serviço é a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb).
O monumento em homenagem ao ex-prefeito Otávio Rocha (1924-1928), porém, está marcado pelo vandalismo. O busto do político está manchado de tinta branca e teve a mão quebrada. Além disso, os globos das lâmpadas nos postes de luz estão deslocados de suas posições originais.
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Histórico de vandalismo
A Praça Otávio Rocha foi criada na década de 1930, mas o espaço para cafeteria foi criado somente em 2013. Na época, a ideia da prefeitura era incentivar o fluxo de pessoas para combater o abandono do local. A praça, então, recebeu novo mobiliário e nova pintura, além de melhorias no piso, e a cafeteria foi inaugurada.
O estabelecimento funcionou até 2019, mas a prefeitura retirou o permissionário por falta de pagamento. Segundo o município, a dívida dos aluguéis chegava a R$ 500 mil, com valores em aberto desde 2014.
Depois que o café fechou, vândalos quebraram as vitrines e portas de vidro e chegaram a incendiar o local, que acabou fechado por paredes de tijolos.