Bons encontros costumam ser determinantes em nossa vida. E nos mostram caminhos que, até então, nos eram desconhecidos. Nem sempre conseguimos lhes dar a devida importância, mas é fácil reconhecê-los se nos pusermos a pensar como transcorreria a nossa existência sem determinado conhecimento ou compreensão da realidade. E ambos dependem da teia de diálogos com que vamos preenchendo nossos dias. Amigos, amores, colegas, desconhecidos que atravessam a jornada por um breve momento.
“Com delicadeza e mansidão tudo pode ser dito"
Todos contribuem para que possamos seguir em frente solapando os erros em busca da melhor direção. Mas é comum nos distrairmos e ignorar o fato de que, em contrapartida, também devemos apresentar o que temos de melhor para as pessoas que usufruem de nossa companhia. E, neste que é um dos requisitos do bem-viver, tenho considerado cada vez mais relevante a capacidade de sermos autênticos. É um exercício não recomendado nos círculos sociais, sob o risco de vermos ruir relacionamentos prósperos e parcerias sólidas. A despeito disso, creio que vale a pena dizer o que se pensa sem tantos pudores.
Ancoro esse princípio nas contundentes palavras de um psiquiatra que tive o privilégio de conhecer recentemente, o dr. Nelio Tombini. Autor de uma obra instigante, “A arte de ser infeliz”, é um homem que fala com leveza, conduzindo a conversa de maneira ponderada, entregando ao interlocutor a possibilidade de se entender melhor nesse mundo assolado de informações e rarefeito de sabedoria. Nas horas em que passamos juntos, fui tomado pela impressão de estar folheando um livro precioso, desses que nos chegam à mão quase por acaso, mas que se destinam a ser fundamentais daquele momento em diante. Resistindo à tentação da vaidade intelectual e abdicando dos jargões tão comuns à sua profissão, fala-nos sobre as armadilhas emocionais das quais somos vítimas.
E isso pelo simples fato de estarmos submetidos a decisões tomadas pelo nosso inconsciente. Lembro-me dele ter falado algo que desde então guia meus passos: “Deve-se sempre dizer a verdade e estar disposto a correr algum risco, que geralmente é minimizado quando a fala é sincera e destituída de arrogância. Com delicadeza e mansidão tudo pode ser dito, respeitando o limite de tolerância do outro. O que ele fará com isso já não é mais problema nosso. Mas podemos sempre contar com a capacidade do entendimento humano, embora ela nem sempre floresça no momento necessário para que a lucidez norteie a aceitação.”
Tenho tentado pautar meu comportamento seguindo esse modelo. Ainda é cedo para saber se haverá uma derrocada ao meu redor. Quero crer que não. E treinando a capacidade de me expressar com calma, com doçura. Evitando abusos verbais, tão comuns em quem tem algum domínio da linguagem, resultado das leituras e da constante observação do que se passa no interior dos seres. É uma tarefa que exige coragem e demanda certa habilidade, mas que todos podem acessar, bastando empenho e vontade. O resultado há de ser uma maior honestidade onde antes vicejava a hipocrisia.