Falta tempo. Mas para que, meu Deus? Até onde eu saiba, continuam sendo entregues, a cada um, vinte e quatro horas diariamente. A solução para este impasse é ampliar a consciência e perceber com clareza a forma de usufruir essa generosa porção. Pouco adianta lamentar, fazendo comparações com épocas passadas. Hoje é assim e pronto. Resmungar cansa os outros e, convenhamos, a nós mesmos.
Estou longe de me colocar no papel do que conseguiu estar acima deste problema. Em vários momentos me pergunto: a manhã já terminou? Pode isso? Os afazeres se multiplicam, a premência em marcar presença em reuniões, projetar ações, atender amigos, família, colegas. As demandas são infindáveis. Porém, não servem de justificativa. Resolver é simples: aprender a excluir, escolhendo realmente o necessário a fazer.
Para que abraçar o mundo? Raras coisas são imprescindíveis. Fazemos escolhas por eliminação. A responsabilidade é nossa. Somos vítimas e agentes.
Fico aqui pensando: como reagiria diante desse embate um ser humano medieval que fosse transportado para a época atual? A vida, então, era pautada pela repetição. O roteiro costumava ser traçado já no nascimento. Filho de ferreiro, ferreiro seria. Cabia-lhe apenas seguir, digamos, o seu destino. Não tinham essa necessidade patológica de se superar constantemente. Esse vem a ser um dos complexos dilemas que enfrentamos.
Nada nos parece suficientemente bom a ponto de nos sentirmos satisfeitos. É preciso ir sempre em busca de algo além, seja lá o que isso signifique. Está bem procurar perspectivas mais amplas para a existência. Afastemo-nos, no entanto, da obsessão. Pois aqui temos o risco de consumir largas fatias dos melhores anos tentando satisfazer tal desejo insano.
Estamos expostos a um sem número de estímulos. E isso é deveras viciante. Parar para contemplar, por exemplo, já deixou de ser parte de um modelo aceito socialmente. Daí para o desespero, a ansiedade, potencializando a sensação de tudo passar rápido demais, é um passo.
O fluxo do tempo é subjetivo, embora ancorado em uma realidade concreta. Bons instantes passam voando. A tristeza, ao contrário, faz residência em nós, mesmo durando pouco. É nossa condição de seres que se pensam. Talvez devêssemos aproveitar essa característica para reconsiderar caminhos trilhados.
Gosto da ideia de criar uma cidadela interior. Um espaço onde determinamos as reais importâncias, independente do entorno e do que se preconiza relevante. Nesta casa para a alma, abrigo a poesia, o silêncio, a serenidade e a certeza da efemeridade. Mantenho-me fiel ao propósito da alegria ao qual creio sermos destinados.
O imperador estoico Marco Aurélio sentenciou: “A vida é um dia, tanto para os que esquecem como para os que são esquecidos.” É necessário nos mantermos fiéis a essa percepção da fugacidade, da impermanência. Depende da maneira como gastamos as horas, os minutos. O pequeno contém o grande. O detalhe determina o conjunto.
De minha parte, pretendo sentir gratidão, ao invés de arrependimento. Digo sim e não, em obediência à minha vontade. Uma decisão que tem me levado a dizer: tudo acontece no seu ritmo, basta manter os olhos abertos e o coração tranquilo.