
Minha dica de filme para esta terça-feira, 1º de abril, é A Grande Mentira (The Good Liar, 2019), disponível na plataforma Max e estrelada por Helen Mirren e Ian McKellen.
Juntos, os atores ingleses somam seis indicações ao Oscar, 20 ao Globo de Ouro, 16 ao Emmy e 16 ao Bafta (a principal premiação britânica).
Juntos, também provam que às vezes, em raras exceções, as portas do estrelato abrem-se não apenas para a juventude.
Sir Ian, hoje com 85 anos, já tinha mais de 55 quando disputou pela primeira vez o Globo de Ouro, como o protagonista de Ricardo III (1995), uma versão da peça de Shakespeare transposta para a Inglaterra da década de 1930. Na sequência, concorreu ao Oscar de melhor ator por Deuses e Monstros (1998) e de ator coadjuvante pela primeira parte da trilogia O Senhor dos Anéis (2001). Também ganhou fama como o vilão Magneto dos filmes dos X-Men, papel que vai reprisar em Vingadores: Doomsday (2026).
Dame Helen, 79 anos, já estava quase passando dos 50 quando foi indicada ao Oscar de atriz coadjuvante por As Loucuras do Rei George (1994). Depois, na mesma categoria, voltaria à premiação da Academia de Hollywood por Assassinato em Gosford Park (2001). Como melhor atriz, venceu por interpretar Elizabeth II em A Rainha (2006) e ficou entre as finalistas por A Última Estação (2009). No Globo de Ouro, vem competindo com frequência: em 2013, por Hitchcock, em 2014, por Phil Spector, em 2015, por A 100 Passos de um Sonho, em 2016, por Trumbo, em 2018, por Ella e John, em 2020, por Catarina, a Grande, e em 2024, por 1923.
Juntos pela primeira vez na carreira, McKellen e Mirren fazem de A Grande Mentira um filme melhor do que de fato é.

Há um motivo extra para eu ter gastado espaço falando da carreira dos dois atores. É que A Grande Mentira é um filme sobre trapaça — quanto menos o espectador souber o que vai ver, mais ele poderá ser entretido durante quase duas horas. O que dá para dizer é o seguinte:
Em sua quarta parceria com o diretor estadunidense Bill Condon (após Deuses e Monstros, Mr. Holmes e a refilmagem da Disney para A Bela e a Fera), McKellen encarna Roy Courtnay. Trata-se, como descobrimos logo nos minutos iniciais, de um golpista. Com ajuda do fiel escudeiro, Vincent (Jim Carter, o mordomo Carson de Downton Abbey), mente para todos, sejam viúvas com uma senhora poupança e uma confiança desmedida, sejam investidores dispostos a acreditar em lucro fácil e rápido.
Helen Mirren interpreta Betty, a próxima vítima de Roy. Os dois se conhecem por meio de um site de relacionamentos, usando nomes falsos, omitindo uma informações aqui, mudando sua história ali. Ou seja: ela também é capaz de mentir.
E chega de falar sobre a sinopse.
Baseado em um best-seller homônimo escrito por Nicholas Searle, A Grande Mentira tem uma esperada virada na trama, pois os dois personagens certamente estão escondendo algo. "É mais profundo do que parece", diz Betty. Mas talvez a reviravolta seja um tanto quanto mirabolante e duvidosa, daquelas capazes de derrubar a suspensão da descrença.
Cumpre dizer, porém, que para não soar como uma solução mágica, tirada da cartola, o diretor Bill Condon espalha pistas. Fica a dica: preste atenção no filme a que Betty e Roy assistem quando vão ao cinema e no que os dois dizem após a sessão. E repare no destino turístico onde ela quer passar umas férias.
Enquanto isso, não deixe de testemunhar dois grandes atores maduros brincando como crianças em um parque de diversões. Ian McKellen e Helen Mirren aproveitam cada minuto em cena. Exibem seu talento para traduzirem, com uma fração de olhares, toda uma gama de sentimentos. Saboreiam cada linha de diálogo — chega a dar um frisson quando Betty fala sobre "segredos guardados entre a gente, Deus, o Diabo e os mortos".
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