
Os divórcios entre pessoas com mais de 50 anos passaram de cerca de 10% em 2010 para 30% em 2022 — na maior parte dos casos, solicitado por mulheres — segundo dados do IBGE.
O salto triplo provavelmente indique a desilusão com os caminhos amorosos, mas, a meu ver, é otimista, no anseio por relacionamentos mais saudáveis e menos opressivos.
É um redirecionamento do público de 50+ rumo a um autoencontro, a não mais viver sob o jugo do ciúme e da dependência.
Há um movimento lúcido na conquista de direitos e na tentativa de desacoplar o pensamento e a atitude da nave-mãe da tradição.
As mulheres não mais suportam o apego tóxico em nome do longo passado a dois. Não mais toleram a infidelidade, tampouco se prestam a não enxergá-la para manter as aparências. Não aceitam maus-tratos e grosseria como sinônimos de intimidade. Não admitem que alguém diga como devem se comportar, ou se vestir, ou falar.
Até porque, por muito tempo, a elegância feminina foi uma invenção masculina de submissão.
Hoje, querem escolher sempre — não uma única vez — e optar, sempre, por si mesmas.
Antes de rotular a tendência como uma indústria do divórcio e supor um enfraquecimento dos laços, talvez seja importante entender a alta necessidade da honestidade na convivência.
Ser de verdade: esse é o principal credo da inédita contemporaneidade.
Alguns fatores facilitaram o aumento das rupturas matrimoniais, como a longevidade, a destruição das ideias da rainha do lar e do homem que trabalha fora para sustentar a casa, o ninho vazio — com filhos adultos, casais percebem que nada mais os une — e a busca pela realização pessoal.
Essa geração emancipadora foi batizada de “divórcio cinza”. Mas deveria se chamar geração das cores e nuances, da retomada, da alegria de dar a volta por cima — superando a transição entre o analógico e o digital e vencendo a culpa com que, por décadas, permaneceu refém de um padrão: o de ser útil à família.
Costuma-se acreditar que ela perdeu o romantismo. Pelo contrário, encontrou o romance consigo, o romance com a liberdade, com a autonomia.
Perder o romantismo seria ficar acomodada em uniões de fachada, adoecidas por dentro, absurdamente monótonas, infelizes, sem iniciativa, ousadia, curiosidade, representando o ideal de posse e de objeto para exibição, tendo que se mostrar irrestritamente disponível.
A vida começa aos 50, quando você está lúcido, quando você já tem uma bagagem para discernir o que você quer do que você nunca mais vai querer.
Nessa maioridade, as mulheres descobrem que existe mais do que metade de uma vida. Existe uma vida inteira pela frente, onde o desejo é soberano, onde o mérito advém exclusivamente da valorização da presença.
A saudade não pode ser fonte de frustrações do etarismo e da aposentadoria amorosa.
A idade é só uma referência, assim como o casamento não padece do extremismo de outrora, e se converte em merecimento dia a dia. Não há jogo ganho na sedução.
A história anterior não serve mais. Fechou-se um ciclo. O que não termina é o amor-próprio. Ninguém em sã consciência trocará a sua solitude por qualquer pessoa.
A procura se resume a ter uma parceria. Amor, agora, é parceria. É atração intelectual. É amizade de princípios. Longe da renúncia, a léguas da privação. Não é mais deixar de ser, deixar de fazer aquilo que se ama para agradar a alguém, para corresponder às expectativas.
O interesse maior se concentra em namorar. E se vier o altar de novo, é para ser dadivoso como um namoro.
Certamente, essas mulheres não se arrependem da separação, apenas se arrependem de não ter se separado antes.