A ciclofaixa pintada na Rua Lopo Gonçalves com a General Lima e Silva, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, tem gerado reclamações de moradores da região antes mesmo de começar a receber bicicletas. Na manhã de quinta-feira (3), agentes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) ainda sinalizavam as marcas na via.
— Os ciclistas, mesmo que venham no fluxo contrário e estejam de frente para os carros, correm o risco de sofrer um acidente se a porta do veículo for aberta quando a bicicleta estiver passando — observa o servidor público Márcio Mendonça, 56 anos, que se mudou recentemente para a Lopo Gonçalves.
Opinião semelhante tem o profissional autônomo Alexandre Oliveira, 51, que estava a poucos metros da esquina com a Lima e Silva.
— Achei desnecessária a forma como fizeram essa ciclofaixa. Se o carro abrir a porta pode causar um acidente para o ciclista. Isso ficou um perigo — alerta.
O fisioterapeuta Daniel Becker, 37, que trabalha na Cidade Baixa, caminhava com pressa pela Lopo Gonçalves, mas parou por alguns minutos para observar a sinalização no chão. Também desaprovou o trabalho realizado pela prefeitura da Capital.
— Acho errado esse tipo de ciclofaixa. A pessoa que estiver dentro do carro pode não enxergar a bicicleta passando e causar algum acidente. A ciclovia aqui deveria ser como as outras da cidade — opina.
Os três também não fazem ideia para que serve o espaço maior pintado em amarelo na pista quase na esquina das duas vias. Também não sabem que além da ciclofaixa pintada na pista haverá uma ciclorrota do lado oposto da via.
Por sua vez, os ciclistas, os mais diretamente envolvidos na questão, desaprovam o que está sendo feito na Lopo. A cicloativista Tássia Furtado, 37, integrante do grupo Bike Anjo Porto Alegre, visitou os trechos na manhã desta sexta-feira (4).
— Há alguns itens, como os tachões, que ainda precisam ser colocados. Mas isso não diminui o risco que ela mais representa, quando acontece a abertura das portas dos carros. Do jeito que ficou, a pessoa estaciona, abre a porta e bate no ciclista. Quem passa de bicicleta não consegue enxergar se tem alguém ou não dentro do carro. Por mais que as autoescolas ensinem que a pessoa deva abrir com a mão contrária a que ela está perto da porta, ninguém age dessa maneira. Por isso é tão grande o número de acidentes com ciclistas e outros modais também — avalia.
A ciclista também afirma que, por enquanto, ainda não dá para saber qual o sentido dessa ciclofaixa. E alerta acerca das semelhanças entre a ciclofaixa localizada na Lopo Gonçalves com a existente na Rua José do Patrocínio, em relação ao risco:
— Provavelmente, ela será uma ciclovia unilateral. E será muito parecida com a da José do Patrocínio (que é bilateral, isto é, há dois sentidos de circulação de bicicletas). Só que eles (EPTC) não colocaram a dupla marcação com os tachões. Então, é um erro chamar a José do Patrocínio de ciclovia. Para ser ciclovia, é necessário haver um separador físico. E eles (EPTC) acreditam que esses tachões são separadores físicos, quando, na verdade, eles não impedem de jeito nenhum qualquer veículo de entrar. Tanto a da José do Patrocínio quanto a que está sendo pintada na Lopo Gonçalves são apenas ciclofaixas. Por estar sendo feita ao lado do passageiro, deveria ter uma área de segurança ou de transição entre um veículo e outro para possibilitar que quem esteja no veículo abra a porta com segurança e não bata em quem estiver passando pela via.
Por estar sendo feita ao lado do passageiro, deveria ter uma área de segurança ou de transição entre um veículo e outro para possibilitar que quem esteja no veículo abra a porta com segurança e não bata em quem estiver passando pela via
TÁSSIA FURTADO
Cicloativista
Outro ponto destacado pela cicloativista é que a ciclofaixa da José do Patrocínio oferece uma chance de o ciclista escapar de algum acidente desse tipo.
— Como a da José do Patrocínio é bilateral, muitas vezes, quando as portas do carro são abertas, os ciclistas conseguem dar uma escapadinha para a outra via da ciclofaixa. O que de forma alguma acontece nessa localizada na Lopo Gonçalves — conclui.
O ciclista Pedro Guazzelli, 35, reclama do modo como as ciclovias têm sido construídas pela prefeitura. Há mais de 10 anos, ele optou pela bicicleta como meio de transporte.
— Não tem um ciclista participando desses projetos. Essa ciclofaixa da Lopo Gonçalves vai causar muitos acidentes. Porto Alegre não tem nenhuma ciclovia igual, uma é diferente da outra. Essa é para inglês ver, apenas para dizerem que há mais quilômetros de ciclovia — critica.
O que diz a EPTC
A despeito da opinião de moradores e da ciclista, a EPTC defende que com a ciclofaixa, a ciclorrota e o espaço para estacionamento, será garantido ao mesmo tempo segurança para os ciclistas e lugar para os carros continuarem parando ali. A empresa informa que as sinalizações estão sendo desenvolvidas em 12 trechos da cidade, entre os quais a Lopo Gonçalves com a Lima e Silva. Também esclarece que a pintura amarela são ampliações da calçada, como as existentes no Centro Histórico, na Avenida Goethe, entre outros pontos. São chamadas ilhas para pedestres e oferecem mais segurança, já que reduzem a velocidade dos veículos no trecho. Confira as considerações da EPTC, encaminhadas por meio de nota:
"A motivação foi permitir a circulação dos ciclistas em ambos os sentidos, não apenas no sentido do fluxo veicular, com mais segurança, sem excluir o estacionamento. Com isso, os ciclistas que circulam no sentido dos veículos se deslocam pela ciclorrota, que destaca sua presença no fundo que será todo vermelho. Já no sentido contrário, a sinalização da circulação dos ciclistas será pela ciclofaixa. A implantação ainda não está finalizada, uma legenda irá informar o sentido dos ciclistas em cada sentido. A faixa, no modelo do implantado, só é utilizada em locais com velocidade até 30km/h. Um espaço destinado com coloração diferenciada dá mais segurança e visibilidade para os ciclistas. Em diversas outras ciclovias o estacionamento é permitido ao lado da ciclovia (exemplos da Mauá e da José do Patrocínio). Em alguns casos em lados diferentes (motorista e carona do veículo). Os ocupantes do carro têm obrigação de olhar antes de abrir a porta do veículo para não atingir uma moto, carro, pedestre, ciclista, etc. Isso com ciclovia, ciclofaixa, ciclorrota ou não, pois o ciclista anda ao lado do carro estacionado e não no meio da via."