Quando a água do Guaíba superou os cinco metros de altura nas paredes históricas do Cais Mauá, em maio de 2024, poucos imaginavam rever o mesmo cartão postal tão pujante menos de um ano depois. Com a mesma força de reconstrução que mobilizou o RS desde então, o ecossistema de inovação gaúcho também se mostrou resiliente, consagrando espaço e relevância na edição do South Summit Brazil 2025, encerrada nessa sexta-feira (11), em Porto Alegre.
Unânime entre os diversos atores, a palavra que fica é de um amadurecimento. De Porto Alegre em si para a realização de eventos de grande porte, do ambiente inovador que se consagra no Rio Grande do Sul e do próprio South Summit, uma marca global.
— É uma edição que mostra para o Brasil e para o mundo um ecossistema que está de pé, forte e olhando para frente. A edição do ano passado já havia sido muito madura, mas esta nos consolida realmente como um grande evento para quem quer fazer negócios no entorno da inovação e da tecnologia — resume Wagner Lopes, country manager do South Summit Brazil, cargo semelhante ao de CEO da edição brasileira.
O amadurecimento da edição se reflete em uma "profissionalização" das conexões. Para a secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado, Simone Stülp, o South Summit 2025 trouxe outra lógica para os negócios.
— Tenho sentido a força dos investidores presentes no evento, na conexão com as empresas e as startups. Isso é muito bom, quando falamos em ativação econômica ou em Rio Grande do Sul do futuro. São os investidores entendendo muito bem a lógica do evento e são as startups melhor preparadas para essa interlocução. Isso é tudo o que sempre sonhamos para que pudéssemos enxergar o mundo e o mundo pudesse nos enxergar — destacou a secretária.
Nesta perspectiva, o resultado das edições comprova que o South Summit é, acima de tudo, um projeto de impacto e de desenvolvimento para o Estado, conforme acrescenta o country manager.
— Quando trouxemos o South Summit lá em 2022, esse era o objetivo, trazer uma marca global que pudesse acelerar o desenvolvimento do nosso ecossistema e causar impacto. Passadas três edições e agora, ao final da quarta, começamos a sentir um pouco mais disso. Há o impacto direto na economia, mas há também o impacto de o evento ser percebido, tanto em reputação quanto em imagem de Porto Alegre como local inovador.
Do outro lado do muro
Mais do que a vibração nos armazéns do Cais Mauá, o impacto está no "extramuros", com efeitos na economia, na hotelaria, na gastronomia e em uma série de outros serviços. Muitas ativações com o público foram realizadas durante os três dias de evento, como uma espécie de vitrine para marcas locais não necessariamente relacionadas à inovação.
Do motorista de aplicativo que transporta passageiros ao estabelecimento que oferece desconto para os frequentadores com credencial, o evento ativa uma roda de negócios que vai muito além dos painéis. Conforme a organização, 95% da produção do evento se abastece de fornecedores locais, o que também traz efeitos econômicos diretos.
— São oportunidades que começam no South Summit e que a gente percebe como sementes que viram negócios, alianças, fornecedores contratados. Tanto do impacto econômico direto quanto nas oportunidades de médio e longo prazo, vemos que foi um acerto trazer o South Summit para Porto Alegre — diz Lopes.
Transformação
Outro ponto citado como legado das edições do South Summit diz respeito a uma mudança cultural. Conforme os organizadores, a abordagem mais incisiva do tema nos últimos quatro anos, por ocasião do evento, faz com que a inovação esteja mais presente no cotidiano. Na prática, isso representa mais empresas se voltando ao assunto e mais jovens sendo formados com o despertar das oportunidades em inovação.
Na edição de 2025, um dado que simbolizou essa mudança foi a maior participação de startups. Foram mais de 2,1 mil empresas nascentes inscritas este ano. Para Rodrigo Cavalheiro, presidente da Associação Gaúcha de Startups (AGS) e um dos "líderes locais" do South Summit, o número representa não só um alcance quantitativo, mas também uma mudança de visão dos empreendedores.
— Vejo que a inovação hoje está muito disseminada. Isso torna o ecossistema mais maduro e faz, claro, com que a gente tenha uma abrangência ainda maior de startups já em fase de tração, operando cheques muito maiores — diz Cavalheiro.
O efeito não fica restrito a Porto Alegre e Região Metropolitana, onde importantes centros de inovação como Instituto Caldeira, Tecnopuc e outros parques tecnológicos já estão consolidados. O movimento incentiva que novos hubs se instalem em cidades do Interior. O presidente da AGS cita Alegrete, Santana do Livramento e Uruguaiana como novos polos em fomento.
O amadurecimento das startups, aliás, é visível pela trajetória das que participam desde a primeira edição. Secretário de Inovação em Porto Alegre e coordenador do Pacto pela Inovação de Porto Alegre, o Pacto Alegre, Luiz Carlos Pinto da Silva relembra o caso de empresas como a TerraMares. Acelerada por órgãos como Fapergs, prefeitura e Sebrae, ela figurou este ano entre as premiadas da edição, após chegar ao seleto grupo das que participam da competição de startups.
— Isso mostra o amadurecimento do ecossistema e levanta a barra. Ou seja, faz com que a gente consiga estimular nossos jovens e nossas startups a pensarem numa realidade que vai se tornar cada vez mais global — diz o secretário.
Investidores de olho
Objetivo fim do South Summit, os negócios sinalizados pela presença de investidores e fundos de investimentos ampliaram espaço em 2025. E mudaram a abordagem.
O apetite para o risco, dizem os especialistas, está diferente nos últimos anos. Não só pelo contexto macro de juros altos, confiança ou mudanças climáticas, mas por um perfil de onde investir.
— A busca hoje não é por startups unicórnios, aquelas que rapidamente estão valendo um bilhão de dólares, mas por aquelas que crescem de forma resiliente. São as "cabras da montanha", como a gente chama, que caem, mas sobem de novo — diz Cavalheiro, da AGS.
A ação "agressiva" dos investidores também diz a respeito das marcas do evento, avalia o secretário de Inovação de Porto Alegre.
— Os investidores estão sentindo que os negócios estão mais maduros. E isso, sabemos, é efeito do trabalho que tem sido feito de preparar as startups para que sejam capazes de atrair investimentos.
Mesmo que as grandes cifras não cheguem a todas as empresas nascentes, a possibilidade de escalonar faz com que muitas ideias saiam do âmbito acadêmico e inaugurem um perfil de nova economia.
— Tem as startups que atraem grandes fundos, mas tem também aquelas que são importantes por serem de impacto. Não necessariamente são atrativas para um fundo, mas são uma maneira de criar emprego, de trazer negócios tradicionais para a nova economia e de abrir horizontes — completa Luiz Carlos Pinto da Silva.
Presente pelo quarto ano consecutivo no South Summit, o Grupo RBS é strategic media partner do evento.
Os legados da edição, em 3 pontos:
- Reconhecimento da cidade: para os atores do ecossistema, o South Summit Brazil transforma Porto Alegre num dos polos da cultura inovadora. Parte desta relevância se dá pelos nomes de peso que o evento reúne. A cada edição, especialistas da cena nacional e internacional se encontram nos palcos de debates e painéis do Cais Mauá.
- Talento na régua: a relevância do evento faz com que o nível das startups participantes esteja cada vez mais profissionalizado. Isso se reflete na maturidade dos negócios, com ideias bem estruturadas e aptas a atraírem investimentos. O resultado final é um ecossistema de inovação consolidado e relevante no país e no mundo.
- Efeito extramuros: os reflexos do South Summit vão além dos muros do Cais Mauá e aparecem na economia local, fomentando negócios de comércio e serviços. Mas, além do impacto financeiro, materializam-se no dia a dia das startups, na elaboração de políticas públicas de fomento à inovação e até nas escolas.