Era fim de verão. Eu lembro de estar sentado na Praça, no meio da tarde, quando o meu celular tocou. A ligação foi inesperada: do outro lado da linha, a secretária de Cultura Adriana Antunes me convidava para fazer parte da Comissão Organizadora da 33ª Feira do Livro de Caxias do Sul.
Quase neguei o convite. Eu, que sempre cultivei alguns problemas sobre ser ou não suficiente, não me senti preparado. Contudo (e com tudo: ansiedade, medo), obviamente aceitei. Feliz da vida. E desde então eu estive, quinzenalmente, reunido com escritores, jornalistas, livreiros, arquitetos e tantos outros que, juntos, fizeram a Feira do Livro tomar forma.
Tivemos medo, é claro. Após um longo ano de discussões sobre o melhor local para a realização do evento, decidimos deixar a cidade opinar. E Caxias trouxe a Feira de volta à Praça.
Em contrapartida, tivemos decisões mais fáceis. Natalia Borges Polesso foi escolhida por unanimidade como patrona desta edição. A escolha foi certeira: não só pelos prêmios e reconhecimento internacional da escritora, mas pelo papel que ela desempenha, pela voz que multiplica. Engana-se quem pensa que Natalia é só Amora (seu livro mais recente de grande destaque) e que Amora é só Natalia. Natalia é também Recortes para álbum de fotografia sem gente, lançado ainda em 2013, e Coração à corda, este com seletos poemas. Assim como Amora é Natalia, sim, mas também é Débora, Laura, Vera, Clara, e tantas outras mulheres que protagonizam os seus contos.
E felizmente tivemos uma patrona presente e ativa.
Nestes dias de evento, teve quem disse que a Feira havia parado o trânsito (sou do time que acredita que a Rua Dr. Montaury deveria ser coberta em definitivo). Quanto a isso, fiquei feliz. Quer elogio melhor do que uma Feira do Livro que está de parar o trânsito?
Exatamente agora, escrevo esta crônica no café da Feira. O evento está cheio, as pessoas estão discutindo, aproveitando. Tem uma roda de crianças entusiasmadas com os seus livros em mãos. Há alguns minutos eu conversava com a diretora do Departamento do Livro e da Leitura, Maria Cristina Pisoni. A Cris me disse, com todo aquele brilho no olho, que a Praça estava eufórica, em festa, a ponto de ter um ataque cardíaco.
Para mim, esta metáfora foi a prova final. Sim, estamos no coração da cidade. E é no coração que os livros devem morar.