
Estava parado no trânsito dias atrás. O rádio quebrado, a bateria do celular no fim, e eu ali, só com meus próprios pensamentos. Um terror para qualquer um acostumado a preencher cada segundo com estímulos. Mas foi nesse pequeno momento de nada que me ocorreu uma ideia brilhante — a qual esqueci logo depois, mas que me fez pensar: quando foi a última vez que simplesmente fiquei em inércia, sem fazer absolutamente nada?
Não soube responder. E isso se justifica: vivemos na era do entretenimento ininterrupto. Não conseguimos mais esperar o elevador sem rolar um feed, tomar café sem um podcast tocando, atravessar a rua sem responder uma mensagem. Até fila de banco se tornou um convite ao consumo de vídeos curtos e notícias rápidas.
Somos movidos por pequenas doses de dopamina, um neurotransmissor que nos recompensa quando algo novo e interessante acontece — e que nos vicia nessa busca incessante por novidade. Mas eis o paradoxo: se estamos sempre distraídos, quando é que sobra espaço para a criatividade, a introspecção ou até mesmo aquele devaneio sem compromisso que, de repente, vira uma grande ideia?
Pesquisadores dizem que o tédio é essencial. A ciência comprova que momentos de monotonia ajudam a estimular conexões neurais mais profundas, aquelas que levam à criatividade. É por isso que grandes ideias surgem no banho, na fila do mercado ou enquanto olhamos para o teto sem propósito aparente. O problema é que, de uns anos pra cá, desaprendemos a fazer isso. Se um minuto de silêncio aparece, lá estamos nós desbloqueando o celular por puro reflexo, como se a ausência de estímulos fosse um erro no sistema.
O filósofo Mario Sergio Cortella diz que, sem a pausa necessária, corremos o risco de apenas reagir aos estímulos externos, sem nunca mergulhar em nós mesmos. E, sejamos sinceros, tem muita gente que morre de medo desse mergulho. O silêncio assusta, a solidão incomoda, o vazio parece um problema. Mas e se for exatamente o contrário? E se for ali, na ausência de ruído, que descobrimos o que realmente pensamos, queremos e sentimos?
Talvez estejamos apenas ocupados demais para perceber.