
O tempo parece estar passando mais rápido a cada ano. Não sei se é só impressão minha, mas ultimamente o Natal chega quase junto com o Carnaval, que logo dá lugar ao Dia das Mães e, num piscar de olhos, já estamos comprando panetone novamente. O Halloween mal se estabelece e, no fim, o verdadeiro susto é reparar que já estamos rodeados de enfeites natalinos outra vez. E a Páscoa? Antes mesmo do ano engatar, os ovos de chocolate já tomam conta das prateleiras. Mas já?! Quando, como e por que o tempo passou tão rápido sem que nos déssemos conta?
Sorte das crianças, que parecem imunes a essa aceleração. Dia desses, ouvi um garoto reclamando da pouca duração das férias escolares: dois meses para descansar contra um ano inteiro de aulas. Aos olhos dele, deveria haver mais equilíbrio — e talvez ele tenha razão... Quem pode culpá-lo? Para as crianças, o tempo parece se estender e por vezes parece se arrastar como alguém preso no trânsito de sexta-feira à tarde; já para nós, adultos, ele se resume a semanas que deslizam sem que percebamos.
A ciência tem uma explicação lógica para isso, o que evita pensarmos que estamos delirando (pelo menos não completamente). O cérebro humano se acostuma com a rotina e, à medida que repetimos atividades, a percepção do tempo em si é encurtada. Fazemos as mesmas coisas, tomamos os mesmos caminhos, não desafiamos o cérebro para o novo. Em contrapartida, quando somos pequenos, cada experiência é inédita, e essa novidade expande nossa sensação de duração dos dias. Estamos o tempo todo aprendendo. Na vida adulta, a previsibilidade do cotidiano faz com que os anos passem sem que nos detenhamos nos detalhes. Um efeito colateral da modernidade ou uma pegadinha do universo? Difícil dizer.
Talvez seja esse o grande desafio: encontrar maneiras de escapar da monotonia e perceber o tempo com mais atenção. Tentar enganar o tempo da mesma forma como ele nos engana. Como para tudo, há sempre uma perspectiva diferente a qual podemos nos debruçar: se deixarmos de viver apenas sob o domínio de Chronos — o tempo dos prazos e compromissos —, podemos abrir espaço para Kairós, o tempo que se mede pela qualidade, não pela quantidade. E talvez seja nesse instante, entre um respiro e outro, que o tempo desacelere — ou, quem sabe, finalmente passe no ritmo certo. Nem que seja só para nos contrariar.