Você tem um sorriso que é quase um pedido de socorro, mas também uma teimosia. E isso é o que mais me encanta. Porque sorrir quando tá tudo bem, qualquer uma sorri, mas você não, você sorri com o peito pesado, com a cabeça cheia de vozes, com a alma querendo cama. E mesmo assim, você sorri. Como quem diz: eu tô aqui ainda, viu?!
É por isso que, antes de tudo, eu queria te dizer que você é bonita. Bonita mesmo. Não do jeito das revistas, mas do jeito das sobreviventes. Você é dessas que ninguém aplaude, mas que carrega o mundo nas costas sem alarde. E isso é mais raro do que parece.
A gente se perde achando que precisa estar plena pra ser querida, que precisa ter a vida resolvida, o coração em paz, o passado limpo. Besteira. Você, do jeitinho que está agora, meio cansada, meio inquieta, meio frustrada, já vale o afeto mais inteiro de alguém. Porque você tenta. E quem tenta, mesmo machucada, já é heroica por existir.
Sim, eu sei que você tem uma variz na perna direita que parece querer contar sua própria história. E ela é bonita. Uma trilha azulada que diz: aqui tem caminho, tem peso, tem resistência. Mas, com todo respeito à variz, o que mais me prende em você é esse sorriso torto que você arranca de si mesma nos dias piores. Isso, sim, é coisa de admirar em silêncio. É coragem que dá vontade de morar perto.
Porque o bonito em você é esse gesto pequeno de continuar. Mesmo com a agenda atrasada, a cabeça explodindo e um passado que ainda bate na porta da madrugada. Você acorda. Coloca a água do café. Veste a roupa que der. E vai. Como se a vida não te tivesse doído ontem. Como se hoje fosse uma nova chance, mesmo sem saber se vai ser.
E é por isso que você é importante. Não por ser estável. Mas por ser humana, inteira e partida ao mesmo tempo. Por ser esse tipo de mulher que escuta o coração bater no fundo da garganta e segue mesmo assim. Que vive entre ansiedades, fragmentos e listas de compras. E ainda assim é morada boa pra quem quiser afeto.
Teus dedos são bonitos, sim. E tua presença é rara. Mas o que segura mesmo esse mundo aqui é teu sorriso de recomeço. Esse sorriso que não engana ninguém, ele não diz que você tá bem, ele diz que você tá tentando. E isso, minha querida, é o bastante.
Talvez alguém aí fora esteja esperando você mudar. Eu não. Eu tô aqui pra te lembrar que assim, exatamente assim, com a alma em desalinho e o corpo querendo colo, você já é um presente. E se ninguém souber ver isso, o problema não é você.
Sabe o que você faz? Coloca a mão no peito, sente esse coração que ainda insiste em bater. Isso aí é prova. Prova de que você é forte. Forte do jeito mais bonito que existe: o jeito cotidiano.
Você é feita de resiliência. Você é feita de poesia crua. Você é feita de tudo o que permanece quando o resto vai embora.
Lê de novo. Devagar, como quem respira depois de um susto. Esse texto é sobre você. Sobre o tanto que você ainda é, mesmo quando acha que não é mais nada.