Durante séculos, até o início da idade moderna, a busca pela felicidade individual sequer fazia parte do imaginário humano. É um projeto recente e, segundo o filósofo Pascal Bruckner, passou a se configurar uma espécie de ditadura. Essa “obrigação” ganhou contornos patológicos com o avanço exponencial dos contatos virtuais. Convivemos com exemplos que primam pela idealização, sem encontrar ressonância no concreto. Apesar dessa disfunção de imagem, procurando pela perfeição, ao fim ela acaba tornando tanta gente, paradoxalmente, triste. Conjecturam: melhor sentir-se aprisionado a reconhecer a incapacidade de se alçar aos padrões vislumbrados nas redes sociais. Confundem mentira com distinção. Mas a ideia de perscrutar a realidade e a aparência é sempre bem-vinda. Ajuda-nos a ter em mente o pressuposto socrático de que é insuficiente apenas viver: é imprescindível analisar os atos praticados. O crescimento cobra de nós perseverança e atenção. Desviar-se delas é ser subjugados pelos valores coletivos, aceitando passivamente os ditames dos demais.
Precisamos desenvolver um mínimo de autonomia do pensamento, tornando-nos flexíveis em relação ao que nos cerca, visitando o extremo oposto, quando necessário. Veja, não tem nada a ver com incoerência, mas simplesmente em passear com leveza pelo universo das possibilidades presentes no dia a dia. Posso deixar de validar algo por ter expandido a minha consciência. A variedade de experiências se constitui num rico manancial a ser explorado. Exige coragem e disponibilidade emocional, pois é bem mais confortável reproduzir por décadas posturas chanceladas socialmente. O preço a se pagar pela conformidade costuma ser alto, no entanto. A palavra interessante, presente no título deste texto, está atrelada à outra: ousadia. Quem aquiesce em aderir a uma visão organizada da existência, dificilmente conhecerá as alegrias advindas da exploração desse caos manso chamado imprevisto. Para se instaurar em nós, sugere-se fazer uma longa investigação do que nos faz feliz - agora sim um conceito merecendo ser explorado.
Tudo começa no cérebro. O mundo muda de dentro para fora, ao contrário da crença disseminada. Então, as alterações provocadas interiormente iluminam a maneira de ver e sentir. Agrega-se a isso mil vertentes a serem exploradas pela subjetividade. Vale sublinhar: o trabalho envolve uma sincera escuta das motivações. As escolhas às vezes batem de frente com o preconizado como certo ou errado. Pouco importa. Em referência aos sentimentos, é possível escapar das regras que colocam ao seu redor uma camisa de força. A liberdade será a causa, não a consequência dessa forma de agir. Cada um poderá criar um pequeno manual de como agir em variadas circunstâncias. Importante: ele deverá ser escrito a lápis, para poder ser refeito.
Termino a reflexão amparado na sentença de Nietzsche: “Torna-te quem tu és.”