Quando eu era criança, nos primeiros anos de escola, lembro que a professora dizia que o Brasil era um país do futuro, cheio de riquezas. Tem um livro do Stefan Zweig com este título. Falava que tínhamos ferro, ouro, florestas que isso fazia de nós um país rico e desejado.
É interessante pensar que este tipo de comentário tem uma lógica estranha embutida, equivale a dizer que o sujeito será um grande artista porque possui muitas tintas em casa. Mas o que faz do sujeito um sujeito não são os pincéis, mas, sim, suas ideias, a técnica, o estudo e o aprimoramento. Daí começamos a entender porque ao mesmo tempo que somos (ainda somos) um país tão rico e cheio de diversidade, temos um povo tão pobre, inclusive de inteligência.
Na semana passada saiu uma notícia aterradora sobre o Brasil e nosso senso crítico. Um estudo realizado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 21 países mostrou que o Brasil é o país que mais cai em fake news do mundo. Ou seja, temos o pior desempenho na capacidade de identificar notícias falsas. E os números não param por aí, 57% do brasileiros entrevistados não sabem identificar uma sátira ou ironia. Aliás, lembro bem da professora de português dizer que, de fato, uma das figuras de linguagem mais difíceis de identificar é a ironia, mas que ela é fundamental para compreensão e análise de discurso.
Sem este entendimento é como se fôssemos um bando de tolos que acreditariam em bobagens das mais estapafúrdias por falta de repertório cultural e intelectual. Trocando em miúdos, é como se fosse mais verdadeiro acreditar na ideia de que a Terra é plana do que em todo avanço científico realizado até aqui. Literalmente uma massa de pessoas sem capacidade de pensar. Assustador.
O estudo mostra que somos um país que não sabe pensar. Com todo respeito, mas temos muito músculo para cérebros tão ocos. O mundo é feito de ideias. Sem elas não conseguimos pensar no futuro, esquecemos o passado, repetimos os mesmos erros e esculhambamos com o presente. Sobre o estudo citado, ele ainda mostra que os participantes têm uma tendência em acreditar em tudo que veem na internet e usam as redes sociais para se informar.
Isso é um problema, porque sem nenhum tipo de regulamentação, a internet é uma propagadora de discursos de ódio e mentiras. Daí, lembro das aulas de Filosofia, lá do Ensino Médio, quando o professor ensinava ética e a necessidade de compreender e interpretar o que está sendo dito pelo outro.
Apesar da escola ainda carecer de reformas em todos os sentidos, além de muito incentivo pelos governos e reconhecimento da sociedade em geral da importância do professor, é dentro dela que o sujeito aprende a pensar, a fazer perguntas, a questionar, a compreender o que é liberdade de expressão e o que é propagação de discurso de ódio.
É no contato com um professor valorizado e respeitado em seu conhecimento, que o sujeito aprende a escutar, a ler, interpretar e a reconhecer uma hipocrisia. De resto, é hipocrisia.