Diferente da puberdade, que se refere a um tempo biológico, talvez pudéssemos entender a adolescência como o processo em que toda pessoa passa, ou pelo menos deveria passar, para tornar-se adulto. Uma espécie de processo de amadurecimento. Um crescimento emocional e psíquico. É claro que isso jamais será conseguido sozinho. O adolescente carece de adultos capazes de ajudá-lo a atravessar este período conturbado da vida. Conturbado porque não existe adolescência fácil.
São os hormônios, o corpo que cresce de modo acelerado e meio estranho, a sensação de não encaixe, a busca pela própria identidade, a necessidade de pertencimento, a descoberta sexual.
Psicanaliticamente falando, a adolescência é o tempo da integração, da personalização, da realização e da constituição do si-mesmo. É uma luta diária e que leva anos até que a tarefa psíquica esteja, em partes, concluída. Esta é uma etapa que exige saúde psíquica suficiente para enfrentar os desafios e as dificuldades inerentes à integração da vida instintual e aos relacionamentos interpessoais.
Isso significa que o adolescente precisa aprender a viver em sociedade, recalcar a violência e a agressão, criar a camada civilizatória necessária para conviver com o outro, abrindo mão da onipotência. Ou seja, sabendo-se pessoa igual a todas as outras. Mas, para isso, ele precisa de pai e mãe, figuras centrais na ética do cuidado.
Quando os adolescentes não conseguem realizar este percurso de amadurecimento emocional, físico e psíquico vemos o que temos visto nos últimos tempos. É claro que a sensação que nos toma conta é de que estamos perdidos, mas para além do susto e do medo que nos atinge vertiginosamente, é necessário que nos impliquemos na condução do cuidado com este outro que ainda está em fase de crescimento. Esta não é uma escrita de culpabilização dos pais, mas de responsabilização.
Vivemos contextos, sem generalizar, mas que os pais são ausentes e as mães permissivas. Há uma dificuldade em conseguir compreender que a relação pai-filho é uma relação assimétrica. Pais não são amigos dos filhos. Pais precisam ser pais dos filhos. Os filhos precisam de escuta, de muita conversa e de limites.
Isso implica no modo como nós adultos estamos nos comportando diante deles e das demandas que eles apresentam. Ter filhos dá trabalho. Não é possível que se terceirize o cuidado deles, seja para as redes sociais ou para a escola. Nem mesmo para o vô e a vó. Existe uma romantização atravessada pela idealização da ideia de ter filhos.
Filhos são da ordem do real. Se eles se isolam, se não contam o que estão fazendo, não dá para fazer de conta que está tudo bem. Se você não cuidar dele, alguém vai ocupar este espaço e isso pode ser muito perigoso.
A adolescência continua sendo um campo de lutas internas e externas, daquilo que herdamos de nossos pais e do que precisamos inventar para mudar o que se tem hoje. Achar que a vida ensina o que não se aprendeu dentro de casa é entregar o filho para um futuro que pode ser muito trágico. Para todos.