A morte do papa Francisco comoveu a América Latina nesta segunda-feira (21), de personalidades como o craque Lionel Messi e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a simples fiéis que visitaram a basílica de Guadalupe, no México, e a catedral de Santiago do Chile.
Em sua cidade natal, Buenos Aires, uma missa reuniu vários fiéis na catedral, enquanto líderes políticos e sociais de todas as denominações inundaram a internet de homenagens ao papa argentino.
"Apesar das diferenças que hoje são menores, ter podido conhecê-lo em sua bondade e sabedoria foi uma verdadeira honra para mim", postou no X o presidente ultraliberal argentino, Javier Milei, que nos anos que antecederam sua eleição criticou e, inclusive, insultou o papa Francisco.
Milei, que decretou sete dias de luto no país, foi recebido no Vaticano em fevereiro de 2024, em um encontro que incluiu um abraço e uma troca de palavras afetuosas com Francisco.
A relação de Bergoglio com a política argentina, e particularmente com a ditadura (1976-83), foi espinhosa. Quando foi eleito papa, em 2013, foi vinculado à prisão de dois sacerdotes jesuítas que ficaram desaparecidos por cinco meses.
"Não vai haver outro igual", disse a presidente da organização Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, em entrevista à Radio 10. Referência dos direitos humanos, ela afirmou que o pontífice "era como um irmão", que se preocupava "com todos, da menor vítima aos poderosos".
Carlotto, que contou que tinha previsto visitar o papa no próximo mês, acrescentou: "Que aqueles que vão ocupar o poder que ele tinha saibam que queremos papas assim."
"Morreu o pai de todos", disse o arcebispo Jorge García Cuerva em seu sermão. "Foi embora o pai dos pobres, dos marginalizados, daqueles aos quais muitos excluem".
O mundo do futebol, do qual o papa se dizia apaixonado desde criança, também se somou às homenagens. O craque Lionel Messi escreveu uma homenagem emotiva no Instagram: "Um Papa distinto, próximo, argentino... QEPD papa Francisco", escreveu, usando as iniciais de Que em Paz Descanse.
- 'Entendia a nossa cultura' -
Fiéis prestaram homenagens a Francisco nas igrejas de várias cidades latino-americanas, como na basílica de Guadalupe, frequentada por moradores e turistas na Cidade do México, que organizou um "dia de oração" em homenagem ao jesuíta argentino.
"Para nós, era uma bênção que fosse do continente americano e, sobretudo, entendia a nossa cultura, entendia a nossa linguagem, era um pastor do povo, era uma peça muito importante, fundamental para nós", disse à AFP a religiosa Esther Hernández, de 35 anos.
Na catedral de Santiago do Chile, Francisca Álvarez, de 77 anos, caiu em prantos durante a missa.
"Fez muito esforço como homem aqui na Terra. Já está junto do Senhor, em seus braços", destacou Álvarez, enquanto segurava nas mãos uma foto de Francisco com uma oração dedicada a ele no verso.
A venezuelana Marisela Guerrero, de 45 anos, conta que a palavra do papa lhe deu forças quando chegou ao Chile, onde mora há alguns meses. "Ele deu muito ânimo para nós, os migrantes, porque dizia palavras de incentivo a todos nós, que saímos dos nossos países", afirmou.
"Com sua grande humildade, ele [Francisco] pediu desculpas pelos ministros da Igreja que cometeram abusos. Desde Bento XVI, a Igreja vive uma reparação dos abusos. Eu acho que é preciso seguir nesta linha", afirmou María de Jesús Medina, uma missionária paraguaia de 22 anos.
O arcebispo de San Salvador, José Luis Escobar, destacou que o papa Francisco foi "muito bom" por ter canonizado, em 2018, o arcebispo de San Salvador, Óscar Arnulfo Romero, considerado um defensor dos pobres e oprimidos, que foi assassinado por esquadrões da morte em 24 de março de 1980.
"O papa foi muito bom com todos, mas conosco em El Salvador, eu diria de uma forma especial", acrescentou.
- 'Latino-americano universal' -
Todos os líderes latino-americanos prestaram homenagens ao primeiro pontífice do continente.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a "coragem e empatia" com que Francisco impulsionou o debate sobre as mudanças climáticas, uma das principais agendas de seu governo.
"Com sua simplicidade, coragem e empatia, Francisco trouxe ao Vaticano o tema das mudanças climáticas", afirmou Lula. Em novembro, o Brasil sediará, em Belém do Pará, a COP30, a cúpula climática da ONU.
O presidente também elogiou as críticas do pontífice argentino aos "modelos econômicos que levaram a humanidade a produzir tantas injustiças".
O presidente do Chile, Gabriel Boric, destacou o "esforço genuíno" do papa "para aproximar a Igreja do povo em um mundo onde o espiritual parece ter passado para o segundo plano".
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, homenageou pelo Telegram o papa Francisco, a quem não só destacou como um "baluarte da vida cristã", mas "um grande latino-americano universal".
"Querido Francisco, o povo sul-americano e a nossa Pátria, a Venezuela, tinham em você um amigo de renome, um ser especial, de profunda clareza humana, um homem de luz e esperança", escreveu.
Maduro lembrou de sua contribuição "a favor" da Venezuela, "ao dar ao mundo dois santos nascidos" em sua terra: José Gregorio Hernández e Carmen Rendiles.
O presidente de Cuba Miguel Díaz-Canel destacou a "proximidade" do papa com seu país e "as demonstrações de afeto" que "sempre foram recíprocas para os cubanos".
A presidente de Honduras, Xiomara Castro, assegurou que Francisco foi "um grande guia espiritual, próximo dos humildes, defensor da paz, dos migrantes, da justiça e do cuidado da nossa casa comum".
* AFP