
A morte de um papa dá início a um protocolo na Igreja Católica que começa com a despedida ao pontífice falecido e se encerra com a definição do sucessor.
O conclave, processo que elege o novo papa, ocorre, em geral, no 15º dia após a morte do santo padre, mas pode ser postergado, no máximo, até o 20º dia, para garantir a chegada de todos os votantes.
Quem vota
O novo papa é eleito pelos cardeais. Esses religiosos, que usam batinas carmim, são conhecidos como "príncipes da Igreja", sendo nomeados pelo próprio papa.
Qualquer homem batizado católico pode ser eleito papa, mas, em geral, os votos são dados a cardeais.
O processo começa com o decano (o mais velho) dentre os cardeais convocando todos os que têm direito a voto. O total de eleitores não pode ultrapassar 120.
São impedidos de participar aqueles que tenham mais de 80 anos de idade. "De fato, o motivo desta disposição há que procurá-lo na vontade de não acrescentar ao peso de uma tão veneranda idade o ônus ulterior, constituído pela responsabilidade de escolher aquele que deverá guiar o rebanho de Cristo, de modo adequado às exigências dos tempos", explica o Universi Dominici Gregis, constituição apostólica escrita por João Paulo II que trata das regras para o chamado período de vacância da Sé Apostólica (quando não há papa).
Confinamento e segredo
O conclave acontece na Capela Sistina e os cardeais eleitores ficam alojados na Casa Santa Marta — uma espécie de hotel existente no Vaticano, construído nos anos 1990, durante o papado de João Paulo II, com a finalidade de tornar os conclaves mais confortáveis para os participantes. Curiosamente, ao ser eleito, em 2013, Francisco optou por continuar vivendo no quarto em que estava hospedado na Casa Santa Marta, em vez de mudar-se para o palácio destinado ao papa.
Durante o período da eleição, os cardeais são impedidos de manter contato com pessoas externas ao processo, salvo em situações de emergência. Eles também não podem ler jornais, ouvir rádio, ver TV ou acessar a internet. Prestadores de serviços, como médicos, cozinheiros e faxineiros, devem fazer um juramento de segredo para atuar no Vaticano enquanto ocorre o processo. É vedada a entrada na capela, durante o conclave, de dispositivos que permitam gravação, seja de áudio ou imagens.
Os cardeais eleitores são proibidos de revelar quaisquer detalhes sobre as votações, mesmo após a eleição do novo papa, a não ser que autorizados a isto pelo próprio pontífice.
A votação
Os votos são registrados em papel. O Universi Dominici Gregis estabelece como deve ser a cédula: "a ficha de voto deve ter a forma retangular, e ter escrito na parte superior, se possível em caracteres impressos, as palavras: Eligo in Summum Pontificem, ao passo que, na metade inferior, se deverá deixar em branco o espaço para escrever o nome do eleito; assim, a ficha é feita de molde a que possa ser dobrada em duas partes".
Os cardeais devem preencher à mão, secretamente, as cédulas, com o nome do seu indicado. A constituição apostólica determina que a escrita deve ser clara, "mas com grafia o mais possível não identificável".
Após registrar o voto, o sacerdote deve dobrar a ficha ao meio duas vezes e levá-la, mantendo-a elevada de modo que seja visível para todos, até um recipiente que estará sobre o altar da Capela Sistina. Ao depositar a cédula, deve dizer:
— Invoco como testemunha Cristo Senhor, o qual me há de julgar, que o meu voto é dado àquele que, segundo Deus, julgo deve ser eleito.
Em seguida, faz uma inclinação ao altar e volta para o seu lugar.
Depois que todos depositam suas fichas, os votos são contados. Se o total de cédulas não corresponder ao número de votantes, todas são queimadas e a votação é repetida.
Por sorteio, antes do início da votação, são escolhidos três cardeais escrutinadores. Eles sentam-se a uma mesa, diante do altar da Capela Sistina, e começam a contar os votos. O primeiro pega uma ficha, a lê para si, e passa para o segundo, que faz o mesmo, passando para o terceiro. Este, por sua vez, lê o voto em voz alta, para conhecimento de todos.
O último dos escrutinadores, à medida que vai lendo as fichas de voto, faz nelas um furo com uma agulha, pelo qual passa um fio. No fim da leitura, as pontas deste fio são atadas com um nó, mantendo as cédulas unidas.
Fumaça branca
Será eleito aquele que receber no mínimo dois terços dos votos. Os escrutínios acontecem já desde o primeiro dia de conclave, mas sempre que são contados os votos e ninguém obtém o mínimo para vencer, o processo é repetido.
Após cada contagem, todas as cédulas de voto e papéis com anotações sobre o resultado são queimados. Fumaça escura sai da chaminé da Capela Sistina, indicando aos fiéis que não há definição.
Se após três dias de conclave não houver um eleito, os cardeais são autorizados a fazer uma pausa de um dia, "de oração, de livre colóquio entre os votantes e de uma breve exortação espiritual", estabelece a constituição apostólica.
Depois dessa "folga", o conclave é retomado e são feitas até sete novas votações. Mantendo-se a indefinição, faz-se nova pausa, seguida de mais sete escrutínios. Se não houver definição ainda, os cardeais podem decidir que o novo papa será escolhido com 50% dos votos mais um.
Quando alguém recebe mais de dois terços dos votos, o decano pergunta ao eleito:
— Aceitas a tua eleição canônica para sumo pontífice?
Sendo positiva a resposta, o cardeal mais velho questiona:
— Como queres ser chamado?
Os demais cardeais então prestam homenagem, se ajoelhando diante do novo papa, e a fumaça branca é vista, e em geral celebrada, pelos cristãos do lado de fora.
Em seguida, o cardeal decano sai na sacada central da basílica de São Pedro e diz:
— Annuntio vobis gaudium magnum: habemus papam.
Em português, a tradução seria: "Anuncio-vos uma grande alegria: temos um papa".
O decano então revela o nome civil e o nome escolhido pelo novo pontífice. O papa, minutos depois, aparece no balcão, e dá sua primeira bênção.