Você já reparou como estamos sempre em busca de algo? Nem sempre sabemos o que é, mas sabemos que sentimos a falta de. Um certo vazio. Talvez busquemos respostas, talvez a presença do outro. Desejamos muito encontrar respostas para as nossas angústias. E sim, o ano mal começou e já estamos angustiados. Parece que nossas ansiedades não dão a mínima para a mudança de ano no calendário. Algumas coisas permanecem exatamente as mesmas. Quem de nós não deseja respostas prontas?
A literatura, a internet, toda sorte de gurus e coaches que surgiram nos últimos anos demonstram que há um número significativo de pessoas que buscam respostas como se elas pudessem vir feito uma lista de supermercado. Seria tão mais fácil. Mas não é assim que funciona. Na verdade o que nos constitui enquanto pessoa, não são as respostas, mas as perguntas. Parece meio autoajuda, eu sei, mas não é, pois fazer as perguntas certas é muito difícil. Por quê? Por que quando, de fato, perguntamos a nós mesmos o que precisa ser perguntado, sabemos de antemão que teremos de ter coragem para nos olhar de frente, sem subterfúgios.
Gostamos mais de nós quando nos conhecemos menos. Sabemos que temos partes meio estranhas, feias, que temos desejos esquisitos, por isso não entrar em contato com elas, guarda para nós mesmos uma imagem mais polida e bonita. E assim, nos autoenganamos e quase enganamos os outros. Mas somos nossos próprios fantasmas. E, muitas vezes, projetamos sobre os outros o que não suportamos ver em nós mesmos. Eis uma resposta difícil de assimilar. O vazio nos aparece de muitas formas.
O que você procura? Às vezes quem é vazio demais por dentro precisa se encher com as coisas dos outros. Dizem que é amor. Talvez seja inveja. Talvez seja medo. É duro descobrir que partes nossas são pequenos nadas. Eis outra resposta difícil de se suportar. Talvez por isso, para nos proteger, realizamos uma invenção de nós mesmos e dos outros.
Criamos ideias, fantasias sobre quem somos e sobre aqueles que amamos ou nem tanto. E deparar-se com a resposta de que, talvez, tenhamos amado um ser inexistente, construído a partir de nossos desejos e expectativas, seja outra das respostas complicadas de tolerar.
A vida é feita de caminhos e cada caminho é uma escolha. Escolhemos ficar. Escolhemos partir. Escolhemos perguntar. Escolhemos não saber. Escolhemos tomar para si a vida e deixar de ser criança. Escolhemos não nos responsabilizar e culpamos os outros dos nossos erros. Em cada escolha, haverá uma perda e um ganho. Mas nunca haverá garantias.
Não existe uma listinha, um manual para como se deve lidar com o mundo interno. Às vezes os pássaros voam de volta para a gaiola quando a porta está aberta, às vezes, quando descobrimos que somos livres para realizar nossas escolhas, alguns optam por desistir deste poder. Mas o que faz de nós pessoas não é o passado daquilo que foi e que se repete hoje, mas o futuro do passado que poderia ter sido o que sou e no que estou me tornando.