A semana começou ontem. É o que a gente acredita ou é apenas um jeito de contar o tempo. As segundas, apesar de difíceis, marcam o começo outra vez. E imagino que devem ter sido inventadas por caridade. Alguém, muito sábio e generoso, um dia criou um modo diferente de marcar o tempo porque sabia que era preciso começar a semana, para que ela acabasse. Isso porque tudo na vida precisa que um dia acabe. Por isso, toda segunda a gente se veste de um eu novo. Deixa o eu da semana passada para trás e se reinventa outra vez. Um eu que dure até o próximo domingo. A gente é sempre outra pessoa. Na semana passada você achava que estava tudo perdido. Hoje percebe que não. Ontem a dor te visitou inesperadamente. Hoje você está melhor e até fez um café quente.
Lembra, com 18 anos achava que a vida tinha terminado, afinal agora era entrar na vida adulta. Aos 20 descobriu que a vida estava só começando. Aos 25 percebeu que ainda era jovem demais e que decidir era sempre muito assustador, mas aos poucos soube que podia mudar o rumo da vida. E mudou, inúmeras vezes. Mudou de emprego, de casa, de cidade. Viajou, conheceu pessoas diferentes, amou, desamou e amou mais muitas vezes. Aos 30 trocou de carreira e recomeçou tudo outra vez, só que diferente. Aos 38 e, não aos 25 como imaginava, conheceu o amor da sua vida. Com 46 sorriu feliz ao perceber que é possível seguir tentando mais um pouco. Aos 55 sentiu que ainda era jovem e aos 60 percebeu que a vida passou voando. Como num piscar de olhos. De semana em semana fomos muitos de nós mesmos.
A cada segunda iniciamos uma nova jornada. A tentativa é construir uma versão melhor de nós mesmos. Cada um com sua bagagem. Dentro dela nossas vivências, experiências, pessoas queridas, encontros, boas lembranças. Mas não só. Quantas e quantas vezes arrastamos com nós pessoas que nos fazem mal, situações mal resolvidas, mágoas, dores? Nossa bagagem é nosso interior. Somos aquilo que carregamos por dentro. Se toda semana nos permitimos começar de novo, por que insistimos em ocupar espaços dentro de nós com coisas que não nos fazem bem? Sei que é difícil nos livrar dos excessos que fomos acumulando ao longo de uma vida inteira. Mas é preciso que possamos abrir nossa bagagem de quando em quando e descartar aquilo que já não nos cabe mais. Por isso, toda segunda é uma espécie de homenagem a generosidade da vida. É uma nova tentativa de tentar se vestir de um modo mais leve e verdadeiro. É claro que o outro nos faz mal, mas nós somos os únicos responsáveis pelas coisas que nos acontecem.
Toda segunda pode ser também apenas uma eterna repetição. Depende de como encaramos a vida e de como a vivemos. Talvez repetir seja o primeiro movimento para nos darmos conta de que é preciso tentar de outra maneira. Desaprender. Fico pensando que a memória é um tipo de segunda-feira, já reparou? Por que sempre voltamos a certas lembranças e a outras nunca?
Hoje é terça, a coisa toda já começou ontem e é preciso nos darmos conta de onde estamos e para onde desejamos ir.