Por que temos sempre de saber tudo? Por que sempre temos de ter uma opinião sobre algo, alguma interpretação, dar a nossa palavra sobre determinado assunto? A vida seria tão mais simples se simplesmente aceitássemos que não somos tão sabichões quanto achamos que somos. É, de fato, não sabemos nada. E isso é assustador, acredito. Afinal, aceitar que não se tem um certo entendimento sobre algo mostra nossa vulnerabilidade, expõe nossas faltas, falhas e nossa falta de conhecimento.
Manoel de Barros já dizia que a maior riqueza do homem é a sua incompletude. É saber-se do tamanho que se tem. Às vezes queremos parecer maiores, mais entendidos, fico me perguntando, para quê mesmo? Quando agimos assim, na verdade, estamos expondo em letras garrafais nossa falta de capacidade para deixarmos de ser arrogantes. Nem sempre nos damos conta, mas é muito cansativo estar ao lado de uma pessoa que sabe sobre tudo o tempo todo, que sempre entende o que se passa, que sempre tem uma opinião sobre o que está sendo dito. É tão melhor, às vezes, quando as palavras não dão conta. Precisamos ficar ali, em silêncio, suportando o não saber e aberto ao canto do pássaros.
Hoje quando estacionamos o carro eu vi um galo. Um galo lindo, colorido e que andava elegantemente pela rua. Foi no centro, em meio ao urbano. Um galo e sua galadice, faceiro e pleno. O galo parecia não se importar com os ônibus circulando, as buzinas, o latido dos cachorros, que são tão chatos quanto aqueles que têm opinião para tudo. Andava sobre a calçada como se fosse um galo, nem mais do que isso, nem menos. Fiquei ali o olhando. Estava ele e a vida, em plena manhã de semana, vivendo o indizível, e eu aqui, querendo entender tudo. Eu e todo mundo em algum momento. Ah, como somos insuportáveis.
Quando não sabemos o que dizer, deveríamos ficar calados. Nem sempre existirão respostas. Talvez iremos atravessar a vida sem achar as ditas respostas e justamente nisso pode estar a explicação, se é que há uma. Mas enquanto buscamos respostas que nos sejam entregues tal qual lista de supermercado, seguimos sendo arrogantes e controladores. Ora, nem a (im)previsão do tempo controla o clima. Eu sei, na verdade, desejamos controlar a vida, principalmente a dos outros, já que da nossa não damos conta. Parece mais interessante a vida do outro e o que ele faz, então lá vamos nós nos meter nas decisões do outro. Como se fôssemos os arautos das melhores tomadas de decisão. Percebem como isso é cansativo?
Olhando o galo de hoje fiquei pensando sobre o tamanho da sabedoria de se poder estar onde se está, sendo quem se é, sem obrigação de ter de fazer algo. O galo não estava cocoricando, batendo as asas, anunciando a alvorada. Ele precisaria fazer isso? É isso que esperamos dele? Que enfado, sempre ter de ser aquilo que os outros querem que sejamos. E para nos defender passamos a opinar sobre tudo. Invejei o galo, confesso. Tão confortável em seu caminhar pela calçada, como se pouco importava-se em ser quem era. Era um galo e pronto.