
Nos últimos 12 anos, com coragem e bom humor, o papa Francisco provou que a Igreja Católica pode, sim, ser mais aberta, diversa e acolhedora. O hermano Jorge Mario Bergoglio foi um pontífice reformista desde o modo como se vestia e vivia (sem luxo e ostentação) até a forma simples e bondosa como recebia fiéis e chefes de Estado. Sua partida, nesta segunda-feira (21), entristece especialmente quem acredita que a fé deveria servir para o propósito de um mundo melhor, menos intolerante e menos afeito a guerras estúpidas.
Francisco chegou a ser descrito por alguns teólogos e especialistas no Vaticano como um "papa solitário", pelos ventos da mudança que levava consigo. Desde o início, ele enfrentou a resistência de alas conservadoras da Igreja, mas, no fundo, nunca esteve só.
Francisco foi um papa popular e querido.
Ao abrir as portas da igreja para todos e adotar uma vida simples, ele se tornou próximo do seu rebanho. Mesmo no topo, continuou sendo aquele mesmo sacerdote argentino preocupado com os pobres. Não mudou.
Nos últimos anos, nomeou cardeais de regiões periféricas e fora do eixo europeu (como o nosso querido Dom Jaime Spengler), autorizou mulheres a chefiar escritórios no Vaticano (nomeando a primeira delas, uma freira italiana), abriu consulta popular para que 1,3 bilhão de fiéis opinassem sobre o futuro da Igreja, combateu a pedofilia na Igreja, foi um defensor ferrenho do diálogo e aprovou a bênção a casais homoafetivos, entre outras medidas.
Francisco fez o bem ao mundo.
Que o pêndulo da história, marcada por avanços e recuos cíclicos, não desfaça esse imenso legado. Obrigada, papa Francisco, por mostrar a pessoas de todas as crenças (e também aos descrentes) o verdadeiro sentido da fé.