Dias atrás li uma notícia que dizia que estávamos exatamente na metade do ano. Chegamos até aqui com coragem, isso precisa ser dito. Nestes 50% de 2020 experimentamos um bocado de instantes difíceis, muita angústia, medo e uma sensação de impotência diante da vida, da doença e das pessoas. Quantas vezes você pensou que não conseguiria? O isolamento, depois o distanciamento, a negligência dos inconsequentes, o negacionismo, a onipotência dos idiotas, o medo de perder o emprego, a ausência dos amigos, a saudade de um abraço, o desejo de reencontros, tudo isso somado ao fato de não sabermos quando vai passar, só nos frustra e priva ainda mais. Viver é simples mas não é fácil. Não imaginamos que somos capazes de sentir tanta dor, até sentir. Até sermos duramente feridos. E pode ser uma palavra que saiu sem querer, pode ser porque estamos tão sensíveis que qualquer coisa nos machuca, pode ser porque estamos com a pele tão esticada que parece tambor. Pode ser também que estejamos vivenciando de modo mais constante a tristeza. Mas essa mesma tristeza nos faz olhar a lua cheia e nos encantar com sua beleza, ter ouvido bom para encontrar passarinho, nutrir nossos olhos garimpando estrelas. É preciso sentir a tristeza se ela bater em nossa porta bem no meio do café da manhã. Mas é preciso também não deixar a poesia sair pela mesma porta. Podemos estar chorando mais ao invés de sorrir, mas não podemos nos desacostumar da alegria. Sentir o que se passa dentro de nós é fundamental para nos entendermos. Aos poucos, o tempo vai suavizando intensidades, amenizando os exageros, (re)temperando a vida.
Opinião
Adriana Antunes: 2020
Nestes 50% de 2020 experimentamos um bocado de instantes difíceis, muita angústia, medo e uma sensação de impotência diante da vida, da doença e das pessoas
Adriana Antunes
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