Por Daniel Neves Pereira,Juiz de Direito, membro da Comissão de Inovação do TJRS e vice-diretor da Escola da Ajuris
A magistratura brasileira enfrenta uma sobrecarga de trabalho sem precedentes. Cada juiz do país julga mais de 2 mil processos por ano em média, colocando o Brasil entre os países com maior volume de decisões judiciais no mundo. O desafio da nossa sociedade é garantir uma Justiça eficiente sem comprometer o papel humano na prestação jurisdicional.
Nesse contexto, a inteligência artificial (IA) surge como aliada. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou a Resolução nº 615, estabelecendo diretrizes para o uso da IA no Judiciário, reforçando princípios como transparência, ética e supervisão humana obrigatória. Ferramentas tecnológicas podem automatizar tarefas burocráticas, como triagem de processos e análise documental, liberando magistrados para atividades que exigem discernimento jurídico e sensibilidade.
Ferramentas tecnológicas podem automatizar tarefas burocráticas
A Justiça brasileira se moderniza, mas não pode descuidar do caráter humano. O trabalho dos juízes e juízas vai além de produzir decisões em massa e de forma mecanizada. A palavra sentença vem do latim sentire – sentir. Isso mostra que julgar envolve empatia, compreensão e valoração subjetiva, qualidades que só o ser humano possui e nenhuma máquina pode substituir.
Para exercer a difícil tarefa de julgar, é fundamental que os magistrados estejam saudáveis. A sobrecarga de trabalho e a crescente cobrança por metas, com impacto direto tanto na progressão da carreira quanto na remuneração, submetem esses profissionais a altos níveis de estresse e doenças. Essa situação prejudica não apenas um juiz ou uma juíza individualmente, mas afeta toda a sociedade, que depende da análise serena e humanizada dos casos em andamento na Justiça.
O futuro do Judiciário reside no equilíbrio entre tecnologia e humanidade. A inteligência artificial deve potencializar o trabalho judicial, mas sem descuidar das pessoas por trás de cada processo, inclusive os juízes e juízas, cuja atuação humanizada é fundamental para uma magistratura que responda aos anseios da sociedade.