
Adiantada pelo presidente dos Estados Unidos, no domingo (9), a aplicação de tarifas de 25% às importações de aço e alumínio é aguardada com atenção pelo governo brasileiro.
Segundo maior exportador de aço para os americanos, o Brasil seria duramente afetado pela taxação mais agressiva, com efeitos na produção e no emprego, segundo especialistas. No entanto, os analistas esclarecem que eventuais negociações podem mitigar os efeitos na medida protecionista de Donald Trump.
O anúncio de Trump ocorreu a bordo do voo com destino a Nova Orleans, onde assistiu à decisão do Super Bowl LIX. O presidente americano informou que a medida passaria a valer a partir desta segunda-feira (10), mas ainda não detalhou os pontos da medida.
Impactos
O economista e professor da Universidade Feevale José Antônio Ribeiro de Moura afirma que a postura de Trump, até agora, vai na linha de forçar os países parceiros a negociarem. Contudo, caso não exista um avanço em acordos para amenizar o aumento de tarifas, a sobretaxação tem potencial de prejudicar a produção de aço no Brasil, afetando a atividade econômica do país.
— Se não tiver solução, um acordo, vai esbarrar na questão da produção. E com menos produção, afeta o emprego, impacta o PIB. Isso, realmente, tem um dano econômico sério, porque é um segmento bastante importante, que afeta vários setores, como a construção — diz.
Todavia, Moura avalia que há espaço para negociação. E um primeiro passo nesse sentido seria dado com o Brasil e outros países prejudicados com o aumento de taxas para achar um meio-termo.
O professor Maurício Weiss, do Programa de Mestrado Profissional de Economia (PPECO) da UFRGS, afirma que o real impacto no Brasil vai depender da formatação da medida do governo americano.
De um lado, se a taxação atingir os países exportadores de aço e alumínio de forma homogênea, o efeito tende a ser menor. Isso ocorre porque a produção americana não daria conta de suprir a demanda. Em outro cenário, se a tarifa for maior para o Brasil, o estrago tende a ser maior, desestimulando o setor na indústria brasileira.
— Se as taxas forem maiores para o Brasil do que para os outros países que exportam para os Estados Unidos, aí o resultado já vai ser maior, porque, além de fortalecer um pouco a indústria local deles de aço e alumínio, também vai fortalecer a de alguns outros países. Então, o efeito será pior e mais preocupante — analisa.
Atrás somente do Canadá no ranking de exportadores de aço, o Brasil comercializou 4,1 milhões de toneladas em 2024, o que equivale a 15,6% do total importado pelo país americano. Já no ramo de alumínio, a participação brasileira é menor.
"Perde-perde"
José Augusto de Castro, presidente-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), afirma que, caso a tarifa de 25% seja realmente imposta, haverá um cenário de "perde-perde". De um lado, o exportador perde competitividade com produtos sobretaxados. Do outro, o importador americano compra itens mais caros e precisa repassar parte do aumento para sua cadeia. Com isso, gera um desestímulo para a produção, menos mercadorias no mercado, inflação e desaceleração da economia, de acordo com Castro.
No Brasil, o presidente-executivo da AEB, afirma que o efeito pode ser pulverizado, afetando a indústria de diferentes maneiras.
— Alguns setores vão ter uma elevação de custos e dificuldade de repassar esse aumento. Outros ramos vão ter que reduzir a produção, porque você não vai ter demanda para comprar aquela produção que se pratica hoje. E pode surgir um terceiro fator, que seria a troca de mercado, perder o mercado que anteriormente tinha sido conquistado — observa.
Sobre a possibilidade de o aço brasileiro buscar novos compradores internacionais, Castro afirma que essa missão é difícil, porque o Brasil tem custo de produção elevado e não consegue preços mais competitivos do que o aço da China, que conta com grande estoque do material e valores mais baixos.
Reprise
A imposição de tarifas sobre aço e alumínio não é novidade. Em sua primeira passagem pela Casa Branca, entre 2017 e 2021, Trump já havia colocado em prática a taxação desses produtos.
Em 2018, o republicano determinou taxas de 25% sobre as importações de aço e de 10% sobre as compras de alumínio. No entanto, o presidente americano acabou excluindo da medida Canadá e México, dois dos maiores fornecedores.
O Brasil fez um pedido para também ser isento da tarifa, possibilidade criada pelo governo americano na época, e teve o pleito aprovado. O acordo previa um sistema de cotas para os envios do produto brasileiro. No mesmo ano, a Casa Branca flexibilizou o tarifaço a alguns países, incluindo o Brasil.
Em 2019, Trump acusou o Brasil e a Argentina de desvalorizarem suas moedas para estimular a compra de produtos e ameaçou retomar as taxas de 25% e 10% sobre aço e alumínio. Na época, o então presidente Jair Bolsonaro afirmou que havia conversado com o americano e que não haveria mais sobretaxação do aço e do alumínio brasileiro.
Em agosto de 2020, o governo dos Estados Unidos anunciou a redução da quota para as exportações do aço semi-acabado do Brasil. A medida, segundo o presidente Trump, na época, se deu porque houve mudanças significativas no mercado de aço dos Estados Unidos, que se contraiu.
Em 2022, no governo de Joe Biden, os Estados Unidos revogaram taxas sobre o aço brasileiro.