Donald Trump não negocia pedindo o que realmente quer. Ele pede absurdos, cria tensões, coloca o ambiente em chamas. É a técnica do “bode na sala” elevada à sua forma mais teatral.
Na política, como nos negócios, Trump sempre adiciona mais bodes do que o necessário. Coloca 25 em uma quitinete. Seus adversários esperneiam, a mídia se desespera, aliados tentam interpretar suas intenções. Quando ele finalmente tira 15 bodes, todos suspiram aliviados – e aceitam os 10 restantes como se fossem poucos.
Isso aconteceu na política externa, nas negociações com a China, nas ameaças de saída da Otan, no muro com o México, nas taxas impostas aos vizinhos e, agora, na Faixa de Gaza. Trump sempre coloca um rebanho onde antes nada havia, às vezes só para ver seus interlocutores suarem. Ele sabe que a negociação não é apenas sobre argumentos e números, mas sobre emoções e percepções.
Trump consegue o que quer.
Trump sempre coloca um rebanho onde antes nada havia
O problema é que, com o tempo, acontecerá o que ocorre com os times de futebol que ganham um campeonato. Os adversários mapeiam as táticas e as estratégias, aprendem a antever as jogadas. De repente, a surpresa vira obviedade.
Só que, com Donald Trump, o risco é gigantesco. Porque se alguém pagar para ver, é bem provável que ele dobre a aposta. E com 50 bodes na sala, a confusão se transformará em caos.
Trump já provou que não tem medo de subir o tom quando é desafiado. Se a gritaria aumentar, ele adiciona um bode explosivo, um bode radioativo, um bode com um boné vermelho escrito Make America Great Again. Se os adversários acham que estão vencendo uma rodada, ele muda as regras do jogo. Tem caneta e poder para isso.
O grande perigo é que, em algum momento, alguém pode decidir que não vai mais negociar. Aí, o que era uma estratégia de barganha vira um barril de pólvora prestes a explodir. O mundo já viu líderes que brincaram demais com o caos e perderam o controle da própria tempestade. Quando a fumaça baixar, Trump pode perceber que, desta vez, os bodes não saíram da sala – e que ele está preso ali com eles, balindo.