
O uso excessivo de telas pode trazer impactos significativos para a saúde ocular e o desenvolvimento neuropsicológico, especialmente em crianças.
Estudos indicam que não há um tempo mínimo seguro para a exposição e o uso prolongado, principalmente de dispositivos como celulares e tablets, aumenta o risco de desenvolvimento e progressão da miopia, doença ocular que tem se tornado cada vez mais comum em todo o mundo.
Uma prevenção possível para o problema é simples: mais tempo ao ar livre e exposição à luz solar (sempre com proteção adequada para os olhos):
— Quanto mais tempo a criança passa em atividades ao ar livre, melhor para o desenvolvimento da visão — reforçou o médico oftalmologista Lucas Werner Manfron, do Hospital de Olhos do Rio Grande do Sul (Horgs).
A projeção é que até 2050 cerca de 50% da população global será considerada míope e 10% altos míopes (pacientes que superam 5 graus). O salto impressiona ante os dados de 2020, quando 30% da população mundial havia recebido o diagnóstico de miopia. Desses, 4% eram classificados como altos míopes.
A situação preocupa, uma vez que a miopia está fortemente associada a doenças oculares graves, como o glaucoma e o descolamento de retina, que podem levar à cegueira. Mas o excesso de telas não causa só doenças oculares: evidências apontam que também podem afetar o desenvolvimento neuropsicológico e social das crianças.
A exposição intensa a dispositivos como celulares e tablets pode provocar alterações cerebrais comparáveis ao vício em drogas devido à hiperestimulação do sistema dopaminérgico, responsável pela liberação de dopamina.
— O rolar das telas e o uso de redes sociais modificam a bioquímica cerebral, gerando impactos no comportamento e até mesmo sintomas semelhantes aos de vícios, como apostas online, além de expor as pessoas a conteúdos inapropriados — afirmou o médico oftalmologista.
Esses efeitos podem ser significativos em crianças, mas os adultos também não escapam com facilidade. Além dos riscos neurológicos e comportamentais, o uso excessivo de telas pode causar sintomas “astenopeicos”, associados à fadiga visual, como cansaço extremo ao fim do dia, perda de foco, olhos secos, dificuldade visual e dores de cabeça frequentes.
Qual o tempo ideal?
Uma das recomendações para quem passa muitas horas em frente a telas é seguir a regra 20/20/20.
— A cada 20 minutos, é importante fazer uma pausa de 20 segundos, olhando para um ponto distante, de cerca de 6 metros (ou 20 pés). Essa prática reduz a fadiga ocular e ajuda a preservar a saúde dos olhos — orienta Manfron.
Para evitar esses problemas, o especialista recomenda consultas oftalmológicas anuais, mesmo para quem não apresenta sintomas.
— O acompanhamento regular permite identificar precocemente qualquer alteração e oferecer as melhores orientações para cada caso — conclui.