
E se pensarmos diferente? O Papa Francisco não está doente. Ele tem 88 anos e passa por mais um ciclo da vida, natural e esperado. A longevidade não deveria ser uma anomalia ou exigir explicações.
Envelhecer não é intrinsecamente bom ou ruim. A travessia desse caminho pode ser feita de inúmeras formas. Depende de hábitos, genética, contexto social e, claro, da imprevisível sorte. Alguns chegam aos 80 anos com energia e lucidez invejáveis. Outros, enfrentam limitações severas bem antes. Mas o fato de um homem de quase 90 anos ter modificações no funcionamento do seu corpo faz parte da vida — algo que, estranhamente, parecemos esquecer.
As notícias sobre o estado de saúde do Papa, que podem mudar, tomara para melhor, entre o momento em que escrevo este texto e a sua publicação, são uma oportunidade para refletir. Vivemos no império do imediatismo. A paciência se tornou artigo de luxo e a atenção dura o tempo de um vídeo de 15 segundos. Queremos tudo para ontem: a resposta, a gratificação emocional, o aplauso fácil da bolha, o produto entregue em um clique. Se algo envelhece ou desgasta, descartamos e substituímos.
A tecnologia e a velocidade da informação são avanços inegáveis, mas têm efeitos colaterais. Quando perdemos a capacidade de valorizar o tempo real da vida, das relações, da construção do conhecimento e até do simples envelhecer, algo fica pelo caminho. Não prego uma cruzada rançosa contra o progresso, mas sim um olhar mais atento ao que ignoramos na correria do dia a dia.
O preconceito contra a velhice é um dos mais enraizados e aceitos. Em muitas partes do mundo, já avançamos contra o racismo, o machismo e outras formas de opressão. Ainda há muito a ser feito, mas o debate existe e a mudança acontece. Já quando o assunto é idade, aceitamos, sem questionar, frases e atitudes que reforçam a ideia de que envelhecer é algo a ser combatido. Recebemos com um sorriso observações como "Nossa, nem parece que você tem essa idade!", como se a passagem do tempo fosse um erro a ser disfarçado.
Por que a experiência, a trajetória e o acúmulo de vida não são tão celebrados quanto a juventude?
Enquanto torço pela recuperação do Papa Francisco, aproveito o momento para essa reconexão com o tempo verdadeiro. Um tempo que não se mede apenas em velocidade, mas em profundidade. Um tempo que valoriza a dignidade necessária e merecida em cada etapa da vida, sem apressar o fim e sem negar a finitude. Porque, por mais que tentemos fugir dela, a finitude nos define. É triste, mas é bem mais do que isso. É natural. E é humana.