
Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu algo incomum: fazer oposição ao próprio governo. Pelo menos quando o assunto é a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas.
O presidente tem dado sinais de que apoia a ideia. Tanto, que posou ao lado de Davi Alcolumbre (AP), presidente do Senado, enquanto ele defendia a medida. Alcolumbre argumenta que a exploração trará benefícios econômicos para a região.
Há informações de pressões políticas sobre o Ibama, órgão que deveria analisar o tema do ponto de vista estritamente técnico.
No mesmo dia do evento com Alcolumbre, Lula participou de um outro, desta vez sobre a COP30 — que será realizada em Belém. Foi quando Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, defendeu veementemente a transição energética e o abandono dos combustíveis fósseis. Sem meias palavras, reafirmou que o futuro deve ser verde. Lula, com cara de paisagem, ouviu como se o assunto não fosse com ele.
Substituir o petróleo sujo por energia limpa não é uma questão de ideologia, mas de sobrevivência. De nada adiantam resultados de curto prazo que cobram preços altos demais no futuro.
A falta de sintonia dentro do governo pode parecer apenas um ruído de comunicação, mas não é um caso isolado. A contradição é um traço recorrente do lulismo. Mais do que isso: o “falso equilíbrio” é uma estratégia política para tentar evitar desgastes. O presidente se apresenta como um defensor da democracia, mas mantém relações estreitas com ditaduras sanguinárias e que apoiam o terrorismo, como a do Irã. Fala em justiça social, mas se alia a regimes autoritários que violam direitos básicos das mulheres e de minorias. Na questão ambiental, Lula quer ser visto como um líder global da sustentabilidade, enquanto investe, de fato, em petróleo.
A falta de coerência cobra um preço. Embora Lula ache que sim, ninguém é bobo. O Brasil será um líder da agenda climática ou um exportador de combustíveis fósseis? Só mesmo a falsa esperteza lulista acredita que ambos são possíveis e que um neutraliza o outro.
Enquanto isso, a ministra Marina Silva tenta explicar ao presidente algo que ele já sabe, mas finge desconhecer.