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A artista plástica Graça Craidy é dessas mulheres que gritam por meio de tintas e pincéis. Da mesma forma que sabe cantar doces melodias pintando retratos de amigos, artistas e escritores, Graça ergue a voz em protesto contra a injustiça e a barbárie. A exposição Meu bem, meu mal, que pode ser vista no Memorial do Ministério Público (Praça Marechal Deodoro, 110, esquina com a Jerônimo Coelho, em Porto Alegre), é um berro lancinante contra o feminicídio.
Para que seu grito seja compreendido, a artista carrega nos tons, exagera no preto e no vermelho, esboça corpos disformes, esconde rostos atrás de mãos que ocultam a identidade. Na apresentação do trabalho, a artista — que também escreve com maestria — começa assim:
“Estarrecida. Injuriada. Furiosa. Foi assim que me aconteci no dia em que soube que quem matava as mulheres era o homem que elas mais amaram, o pai dos seus filhos, o príncipe com quem viveriam felizes para sempre. Desde que caladas, submissas e cientes da sua inferioridade. A palavra feminicídio nem era conhecida ainda, mas aquilo despertou em mim tamanha indignação, que me senti visceralmente impelida a alertar, conscientizar, gritar em nome dos filhos órfãos de mãe matada, drama que avassalava mulheres de todas as classes, cores e letras”.
Meu bem, meu mal 2015-2025 sintetiza 10 anos de arte sobre violência contra a mulher, que é também crueldade com os filhos. “Desde 2015, inspirada em fotos das cenas dos crimes, minha arma contra essa tragédia tem sido a minha arte, primeiro com a série Até que a morte nos separe, depois Velho: profissão solidão, Livrai-nos do mal, Estupro, Feminicidas e Noivas. Eu sei, a arte não pode impor igualdade, barrar o gesto nem conter o tiro. Mas quem é tocado pela arte, pode”.
Serviço
- O quê: Exposição Meu bem, meu mal 2015-2025
- Quando: até 11 de março, de segunda a quinta-feira entre as 8h e as 19h, e na sexta das 8h às 15h (fechado aos finais de semana)
- Onde: Memorial do Ministério Público (Praça Marechal Deodoro, 110, na esquina com a Rua Jerônimo Coelho no Centro Histórico)
- Quanto: entrada franca