No dia 1º de janeiro de 2023, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumirá o terceiro mandato com a tarefa de pacificar um país ferido pela disputa eleitoral mais tensa de todos os tempos. Lula precisa ter consciência de que esta vitória não é apenas fruto de sua popularidade, mas, principalmente, da rejeição do adversário. Existe no resultado a vitória de Lula como persona política, sim, mas sua principal explicação está na derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Que Lula não se engane achando que recebeu um cheque em branco ou que o apoio de artistas, intelectuais, ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e antigos adversários lhe dá poderes para instituir a censura, seja com que nome for, ou repetir os erros dos governos petistas. O crédito de confiança que recebeu nas urnas exigirá que ande na linha como se estivesse vigiado por milhares de câmeras em todos os seus atos.
A compra de apoio político que resultou no mensalão e o conluio com empreiteiros corruptos, embrião do escândalo na Petrobras, não podem se repetir, sob pena de o presidente ora eleito não completar o terceiro mandato. Lula terá não apenas que fazer um governo honesto, como ampliar os mecanismos de transparência para que a sociedade tenha essa percepção.
As promessas feitas durante a campanha extrapolaram os limites do orçamento. Será difícil conciliar o compromisso de manter o Auxílio Brasil de R$ 600 em 2023 com a promessa de isentar de Imposto de Renda os salários até R$ 5 mil. O aumento real do salário mínimo e das aposentadorias, a correção da merenda escolar, a construção de milhares de moradias populares, as obras de infraestrutura para gerar emprego e desenvolvimento, tudo custa bilhões de reais que não estão na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Isso sem falar na renegociação das dívidas da população, no crédito a juros baixos, na redução dos preços dos alimentos, na volta da picanha e da cerveja nos churrascos de domingo. O eleitor que acreditou vai cobrar.
Para resolver as dificuldades com um Congresso mais conservador, Lula terá de ceder ao centrão, que é quem dá as cartas em nome da governabilidade. Terá de dar ao vice Geraldo Alckmin (PSB) um papel de relevância, valorizando sua capacidade de diálogo. Nomear um ministério que extrapole as fronteiras do PT e uma equipe econômica comprometida com a estabilidade da moeda e o equilíbrio fiscal, para retomar o controle da inflação.
Será imperativo tratar a educação como prioridade, cumprir a promessa de combater a fome, devolver o respeito na relação entre as instituições e construir uma relação federativa verdadeira com os Estados e municípios.
Não serão fáceis os próximos quatro anos. Lula deve estar ciente de que Bolsonaro perdeu a eleição, mas o bolsonarismo seguirá vivo. E, se ele fracassar, essa seita voltará revigorada em 2026.
Petistas em ascensão
Embora o PT vá se obrigar a dividir o ministério com os aliados, pelo menos três petistas gaúchos devem ter espaço no primeiro escalão: Edegar Pretto, que por muito pouco não chegou ao segundo turno no Rio Grande do Sul e um dos mais promissores da nova geração, e Tarso Genro, ex-ministro da Justiça e da Educação entre 2004 e 2010. O presidente estadual do PT, Paulo Pimenta, que coordenou a campanha nacional de Lula, também poderá integrar o primeiro escalão.
Outra gaúcha cotada para o ministério é Manuela D’Ávila, do PCdoB, que não quis ser candidata e sempre foi extremamente fiel ao ex-presidente.