"Temos a arte para não morrer da verdade." (Friedrich Nietzsche)
Muito se tem discutido, e com angústia assumida, os rumos da medicina apressada do século 21, exercida por médicos apressados que não se deram conta que a única pressa que os pacientes têm é a de serem ouvidos, sem pressa.
As melhores universidades do Ocidente perceberam que é urgente o resgate do humanismo, e que muito provavelmente a arte é o instrumento mais efetivo para desenvolver a inteligência emocional, desde sempre indispensável no trabalho de quem cuida não somente de doenças, mas também, e muito, das suas vítimas.
Com a consciência de que tendemos a repetir mais os erros do que os acertos, a história da medicina passou a ser uma espécie de oráculo para consultas frequentes, na busca obstinada de qualificação pela identificação dos erros que cometeram antes de nós e que muito provavelmente repetiremos, se não tivermos a humildade de reconhecer que eles tentaram com a mesma vontade de acertar e que, na essência, não somos melhores do que eles. Para evitar o risco de sermos piores, temos que manter o olho vivo no retrovisor da história. Um relicário com o que fizeram de melhor ou pior, para repetirmos ou esquecermos.
Estou me referindo ao entusiasmo do professor, descrevendo pela enésima vez fatos históricos seculares com o fascínio da primeira vez.
Assistir a uma aula de história oferece duas reais possibilidades de encantamento: primeiro, a inevitável percepção do quanto ela é necessária para acalmar o presente e, se houver sensibilidade, antecipar o futuro.
Em segundo lugar, pela chance ímpar de aproveitar a oportunidade de conhecer o historiador. E não estou falando de seu currículo ou didática, mesmo reconhecendo que o maior desafio de quem se propõe a revisitar a história é manter atentos os alunos, com premências, prioridades e problemas os mais diversos.
Estou me referindo ao entusiasmo do professor, descrevendo pela enésima vez fatos históricos seculares com o fascínio da primeira vez.
Quem, por voracidade cultural ou pura curiosidade, se debruçou algumas vezes sobre livros de história da medicina se dá conta de que já conhecia pelo menos 70 % das figuras que ilustram uma apresentação clássica. E então, a partir desse ponto, começa o encanto pelo professor, esse ser iluminado que se distingue do curioso convencional por acrescentar detalhes que a subtotalidade dos presentes desconhece. E que não consegue disfarçar a emoção quando cita esses detalhes.
A missão inicial é trazer os espectadores para dentro do relato, fixando-lhes o olhar, reduzindo-lhes a frequência cardíaca e respiratória, e imobilizando-os.
A seguir, o que significaria uma mudança de fase se fosse um videogame, garantir que se mantenham concentrados, roubando-lhes a noção do tempo, sacudindo-os com pérolas de emoção que nem a frialdade do ambiente virtual conseguirá impedir. A soma desses atributos constitui o crachá de apresentação do verdadeiro historiador.
Pois foram justamente essas ferramentas que usou o professor Antônio Cardoso Sparvoli, um gastroenterologista brilhante que não se limitou à inflexibilidade da ciência e mergulhou na história da medicina, e a compartilhou brilhantemente com seus encantados colegas na última sessão cultural da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina. Grande professor. A conferência, A Mandrágora e Eu, foi mais do que espetacular.