
Peço perdão ao leitor por tratar do tema pela enésima vez na semana, mas é coincidência demais até para o Brasil que o Dia do Trabalhador caia numa data tão próxima à revelação do escândalo do INSS. E nós comemoramos a efeméride do jeito que fazemos quase tudo: fingindo.
O presidente Lula fez um pronunciamento em rede nacional pela ocasião. Foram palavras bonitas, semblante sério. Falou muito em conquistas – várias questionáveis – e promessas. E, muito brevemente, quase como mensagem subliminar, finalmente mencionou o bode na sala. Lula disse que vai cobrar ressarcimento, processar associações, responsabilizar culpados. Fez o que se espera, mas fez como quem já se acomodou, como quem age por obrigação e não por indignação.
O escândalo do INSS não é só um escândalo, ele é um atestado da falência de um Estado que deixou de proteger quem o sustenta. O sujeito trabalha quarenta anos, contribui com cada centavo exigido, sonha com um pouco de tranquilidade e termina como alvo de um sistema que permitiu a infiltração de quadrilhas, lobistas e sanguessugas que vivem do suor alheio.
E quando achamos que não dá para piorar, entra em cena a ministra Gleisi Hoffmann para dizer que não há motivo para afastar Carlos Lupi, o ministro que assiste a tudo sem sequer enrubescer. Não há motivo: nem a corrupção bilionária, nem o descontrole institucional, nem o desgaste político. Nada é motivo. Porque no Brasil de hoje, o problema não é a tragédia — é o timing do escândalo.
E assim o Dia do Trabalhador virou o dia da resignação.
A essa altura, o mínimo seria um pedido de desculpas. Mas nem isso nós andamos merecendo. Só o velho teatro no qual um presidente fala bonito, mas evita dizer o que realmente importa. No palco, o roteiro segue igual enquanto a plateia não começa a vaiar.