No Brasil, a política virou um banquete. Um grande banquete onde poucos se fartam e muitos apenas servem.
Enquanto você acorda cedo, pega ônibus lotado e faz malabarismo para pagar o arroz, a luz e o plano de saúde, eles brindam. Brindam com vinho espanhol e uísque japonês, no conforto de palácios e mansões oficiais, fechando acordos que jamais passarão pelas urnas, mas que pesarão, como sempre, no seu bolso.
Na semana passada, vimos Lula e as lideranças do Congresso se reunirem num jantar digno de novela de época.
A entrada? Cargos. O prato principal? Mais cargos. A sobremesa? Emendas, favores, indicações para os conselhos milionários das estatais, a moeda forte da governabilidade brasileira.
Hoje, o jornal O Estado de S. Paulo escancarou a dimensão do escândalo: 323 aliados agraciados com nomeações para conselhos de estatais ou subsidiárias. Uma engrenagem perfeita para garantir votos e fidelidade pagos, claro, com o dinheiro de quem já não aguenta mais ser fiador da indecência institucional.
Veja só o requinte: a chefe de gabinete de Davi Alcolumbre está duplamente contemplada, em dois conselhos. A ex-assessora de Arthur Lira — mantida no cargo por Hugo Motta — foi agraciada com uma sinecura na Brasilcap. O chefe de gabinete de Otto Alencar embolsa seu extra no conselho da Nuclep, que produz equipamentos para o setor nuclear e de defesa. Tudo técnico, tudo meritocrático, ao menos na fábula que contam aos incautos.
Mas a festa não se restringe ao Congresso. Na Esplanada dos Ministérios, a turma também se serve.
Anielle Franco, ex-professora de inglês e hoje ministra da Igualdade Racial, agora também é conselheira da Tupy, uma multinacional da metalurgia. Uma indicação absolutamente técnica, claro. Ganha 40 mil por mês pela função mais seu salário de ministra, recebendo quase R$ 80 mil. Aí não tem carne, azeite ou café que estejam caros, realmente. E olha que ela é ministra da igualdade – não salarial, claro.
Quem também figura no conselho da Tupy é Carlos Lupi, ministro da Previdência, que permanece no cargo mesmo depois do escândalo bilionário no INSS. Até onde se sabe, foram 6,3 bilhões de reais desviados de aposentados e pensionistas, gente que tem que escolher entre o pão e o remédio.
A única reação institucional? Nada. Nem indignação. Nem responsabilização. Apenas mais discursos vagos e mesas fartas.
E para tornar tudo ainda mais grotesco, enquanto se investiga a pilhagem no INSS, parlamentares propõem que o rombo seja coberto com um crédito extra do governo — ou seja, que o rombo seja pago por mim, por você e pelo cidadão que já foi roubado uma vez e agora é convocado a arcar com o prejuízo.
No Brasil, o crime não só compensa como é parcelado em suaves prestações.
E assim seguimos: eles brindam, nós servimos.
Eles se refestelam, nós pagamos.
Eles distribuem sinecuras, nós cortamos no mercado.
Eles nomeiam seus aliados para cargos de 40, 50, 80 mil reais por mês, enquanto a maioria da população se vira com salário mínimo constrangedor e passagem de ônibus subsidiada pela fé.
O Brasil é um banquete permanente. Você pode até estar na sala mas, acredite, não está à mesa.