
O Brasil é o único lugar do mundo onde, em menos de 7 dias, sugerem que a vítima pague o prejuízo, o investigado ganha elogio público e quem tenta proteger o Estado acaba acusado de atrapalhar a festa. E o mais espantoso é que a plateia, em grande parte, segue de pé batendo palma. Nosso país é tão exuberante em distorções que, em menos de sete dias, conseguimos bater recordes em surrealismo político.
Nesta semana, a realidade nacional decidiu brincar de ficção. A Polícia Federal e a CGU revelaram um esquema de descontos indevidos em aposentadorias e pensões, praticado ao longo de cinco anos dentro do INSS. Traduzindo: roubo de dinheiro de idosos. Foram R$ 6,3 bilhões desviados, sem cerimônia, sem assinatura, sem autorização. O aposentado recebia menos e, quando reclamava, descobria que estava filiado a um sindicato fantasma.
Diante do escândalo, o ministro da Previdência, Carlos Lupi, não apresentou plano emergencial, nem pediu desculpas públicas, tampouco anunciou um pente-fino imediato. Preferiu dizer que o presidente do INSS – agora afastado por decisão judicial – tinha entregas exemplares e era “sua escolha pessoal”. Porque por essas bandas, o erro é técnico, mas a defesa é afetiva.
Vivemos em uma nação que me permite dizer, depois de falar do escândalo, o famigerado “até aqui, tudo bem”, embora até aqui nada esteja de fato bem. Mas o que vem a seguir supera todos os limites da imaginação do nosso povo cansado. A deputada Fernanda Melchiona, do PSOL do RS, fez uma indicação para que o governo abra um crédito extraordinário no valor do dinheiro roubado para reembolsar os lesados pelo esquema.
A ideia, portanto, é usar dinheiro público que não existe para cobrir um prejuízo causado por gente corrupta. Ou seja, o lesado também paga pela própria indenização. Os ladrões, claro, ficam fora da equação. É inacreditável, é insano, é tenebroso pensar que isso seja real. Repare bem: a sugestão da parlamentar não passa por redefinir o destino de verbas já previstas no trilionário orçamento da Previdência. Ela quer mais. Eles sempre querem mais.
E falando em querer mais, lá no Supremo, os celulares dos advogados passaram a ser lacrados durante os julgamentos dos envolvidos no 8 de Janeiro. Não por flagrante, como mandaria a lei, mas por precaução, como não manda lei nenhuma. É que em Brasília, sobretudo no Supremo, desconfiança virou norma e o Estado deixou de ser garantidor de direitos para ser tutor de narrativa.
Enquanto isso, Lula jantava com o Centrão na casa de Hugo Motta, onde foram servidos uísque japonês e vinho de mil e duzentos reais, com direito a cargos como entrada e lealdade de ocasião como sobremesa. Um banquete onde a fome maior é por emendas e pela manutenção do poder.
Bom fim de semana a você, leitor, que banca tudo isso e nunca é chamado para a festa.