O 2º Congresso Brasileiro sobre HIV/Aids e Vírus Relacionados reúne especialistas do Brasil e do Exterior em Salvador, na Bahia, a partir desta quarta-feira. Até sábado, o evento, realizado pela Fundação Baiana de Infectologia, discute os principais avanços obtidos no combate à epidemia e o impacto das descobertas na prática clínica.
A conferência de abertura do congresso será feita pela cientista Daria Hazuda, que tem mais de 20 anos de experiência na descoberta de novos medicamentos - é vice-presidente mundial dos Laboratórios de Pesquisa da MSD. Daria foi responsável pelo desenvolvimento do antirretroviral raltegravir, que integra o coquetel distribuído pelo Ministério da Saúde, e também está à frente do desenvolvimento de outras três opções terapêuticas para a aids.
Outra questão que será discutida no evento é o momento ideal para iniciar a terapia antirretroviral. No final de julho, a associação internacional de aids recomendou o acesso precoce ao tratamento em função da disponibilidade de remédios com menos efeitos colaterais e da probabilidade de transmissão ser menor quando a carga viral torna-se indetectável, o que pode conter a propagação da epidemia.
- Se os medicamentos que temos agora são realmente cada vez melhores e serão cada vez menos e menos tóxicos, talvez devêssemos colocar mais pessoas em tratamento - avalia o infectologista Anthony Mills, com atuação clínica reconhecida em Los Angeles, e que também será palestrante na Bahia. Mills falará sobre sua experiência com soropositivos com alto risco cardiovascular no pré-congresso.
Envelhecimento de soropositivos preocupa
Os desafios de envelhecer com o HIV também serão ponto alto da discussão: além das doenças do coração, hepatites, diabetes, insuficiência renal, depressão e alterações ósseas são outros complicadores para o manejo da aids. Essas comorbidades são uma realidade bem recente e preocupam médicos e pacientes, pois têm se tornando episódios comuns aos soropositivos e, muitas vezes, fatais.
Decorrência de alterações do organismo sob o ataque do HIV e do próprio aumento na sobrevida do soropositivo - vivendo mais, torna-se perceptível a instalação de certos quadros -, podem ser agravadas pelos efeitos colaterais das medicações.
- Já estão disponíveis no Brasil drogas mais modernas, altamente eficazes, com boa tolerabilidade e poucos efeitos colaterais. Nesses casos, é necessária a avaliação de cada quadro de forma individualizada e a adequação do tratamento, com a administração de medicamentos que afetem o menos possível o organismo, daí a importância de incluir essa discussão no evento - esclarece o coordenador do congresso e professor da Universidade Federal da Bahia, Carlos Brites.
Ainda serão debatidos tópicos como o uso de antirretrovirais como forma de prevenção ao contágio e o impacto disso sobre a epidemia, após a liberação dessa estratégia nos Estados Unidos; o tratamento de crianças e de adolescentes e durante a gestação para erradicação da transmissão vertical; e perspectivas futuras, entre elas, a possibilidade de desenvolvimento de vacinas, para o enfrentamento à epidemia.
Como é o tratamento da aids no Brasil
A terapia para o combate à aids é feita através de antirretrovirais, medicamentos que não eliminam o vírus, mas ajudam a impedir que o HIV se multiplique. Para isso, é necessário usar, pelo menos, três antirretrovirais combinados. Existem cinco classes de antirretrovirais:
:: Inibidores da transcriptase reversa - atuam na enzima transcriptase reversa, responsável pela transcrição do RNA do vírus em DNA, possibilitando sua inserção no material genético da célula do hospedeiro. Tornam a cadeia defeituosa, impedindo que o vírus se reproduza. São eles: abacavir, didanosina, estavudina, lamivudina, tenofovir, zidovudina e a combinação lamivudina/zidovudina.
:: Inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa - bloqueiam diretamente a ação da enzima e a multiplicação do vírus. São eles: efavirenz, nevirapina e etravirina.
:: Inibidores de protease - atuam na enzima protease, bloqueando sua ação e impedindo a produção de novas cópias de células infectadas com HIV. São eles: atazanavir, darunavir, fosamprenavir, indinavir, lopinavir/r, nelfinavir, ritonavir, saquinavir e tipranavir.
:: Inibidores de fusão - impedem a entrada do vírus na célula e, por isso, ele não pode se reproduzir. É a enfuvirtida.
:: Inibidores da integrase - bloqueiam a atividade da enzima integrase, responsável pela inserção do DNA do HIV ao DNA humano (código genético da célula). Assim, inibe a replicação do vírus e sua capacidade de infectar novas células. É o caso do raltegravir.
O paciente nem sempre começa a tomar os antirretrovirais logo após o diagnóstico, ao contrário do que se possa imaginar. A avaliação é individualizada, mas, segundo diretrizes do Ministério da Saúde, o tratamento, para pessoas sem sintomas, começa apenas quando a contagem das células de defesa CD4 fica abaixo de 350 por mm3 de sangue. Há exceções, como gestantes, pacientes com hepatites, com mais de 55 anos ou com carga viral alta, entre outras condições, que pedem tratamento com 500 ou menos células por mm3.
Fonte: Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais / Ministério da Saúde.