No ano em que completa sete décadas de existência, o tradicional Restaurante e Padaria Haiti, no Centro Histórico, prepara a expansão da marca para o segmento de mercados. O ponto ficará no mesmo bairro onde a primeira loja foi aberta, em 1955. O local escolhido, na Rua Siqueira Campos, fica próximo da antiga prefeitura de Porto Alegre e está sendo adaptado com investimento de R$ 1,5 milhão (veja imagens do projeto abaixo).
Em um espaço de 580 metros quadrados, o Mercado & Café Haiti, como será chamado, terá também uma cafeteria. Segundo o proprietário, Roberto Mendo da Cunha, a ideia é servir comida caseira, com cardápio diferente do oferecido na tradicional loja da Avenida Otávio Rocha.
Na parte reservada ao mercado, o empresário está se inspirando em estabelecimentos do Mercado Público, como a Banca do Holandês e a Banca 43, mas o foco será em produtos de marcas gaúchas.
— Queremos resgatar a comida de mãe e de vó, com temperinho mais caprichado. Teremos risoto, ravióli, sanduíches estilo argentino, rosbife. A ideia é trabalhar com produtos regionais. O mix ainda está sendo definido, mas teremos vinhos, queijos, embutidos, rapaduras, chocolates e pães — diz Cunha, que comprou a operação do restaurante Haiti em 2016.
O imóvel escolhido para a nova operação é locado e estava desocupado desde a enchente de maio de 2024, quando a galeteria Mamma Mia deixou o ponto, que ficou com água até o teto por quase um mês. Antes, uma unidade do restaurante Petiskeira operou no espaço por mais de 10 anos. Mendo diz que a escolha de expandir o Haiti no bairro é uma "aposta" na região.
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— É uma aposta na revitalização do bairro. A oportunidade surgiu bem no ano do nosso aniversário, mas já estávamos vendo a possibilidade de expandir o Haiti. Nenhuma capital do mundo pode dar as costas ao seu centro histórico — diz o empresário.
— A pandemia mudou muito o consumo na região. O fluxo de pessoas caiu bastante, mas ainda tem muita gente. Queremos atrair pessoas para cá e aproveitar o movimento de servidores públicos que ainda trabalham no entorno — completa.
A obra começou em janeiro, e a previsão de inaugurar ficou para abril. Na operação, vão trabalhar 25 funcionários. O horário de funcionamento será das 7h30min às 20h. Contando a parte interna e um deque externo, a loja terá 90 lugares para clientes.
Se o movimento for bom, serão abertas mais duas lojas no mesmo estilo. Os bairros Praia de Belas, Moinhos de Vento e Jardim Lindóia estão no radar.
Um clássico do Centro
O Restaurante e Padaria Haiti completa 70 anos no dia 13 de junho deste ano. A história da marca, porém, começa ainda antes.
Depois de anos à frente da Confeitaria Paris, o imigrante italiano Paschual Longoni comprou, em 1949, a Padaria e Confeitaria Popular, na Rua Coronel Genuíno, no centro de Porto Alegre. No negócio, trabalharam sua esposa, seus filhos e seus genros, incluindo o empresário João Klee. Como lembrou o colunista Leandro Staudt em Zero Hora, além de pães e doces, o negócio começou a investir na produção de café, com as marcas Soberbo e Dominador.
A marca Haiti, que daria fama à empresa, surgiu após a importação de máquinas italianas de café expresso, revendidas pela empresa Haiti Corporation. O nome estava estampado nos equipamentos. Longoni recebeu autorização para usar a marca, nascendo o icônico Café Haiti no mercado gaúcho.
Em parceria com o Café Indiana, na Rua dos Andradas, Longoni oferecia o Café Haiti. Em 1955, o empresário inaugurou o estabelecimento, na Avenida Otávio Rocha. João Antonio Longoni Klee, neto do fundador, trabalhou no local de 1972 até 2016, quando a operação foi vendida. Ele diz que segue frequentando o Haiti como cliente.
— Vou quase todos os dias comer lá. Comecei a trabalhar ali ainda garoto, dediquei minha vida inteira a esse negócio. Fico muito contente com essa loja nova. A marca é muito tradicional, vai prolongar sua existência — diz Klee, que está com 77 anos de idade.
Após ser comprada, a loja de 800 metros quadrados foi reformada com investimento de R$ 800 mil. Há dois pisos, sendo que um está fechado devido ao baixo movimento no verão. Em média, o Haiti atende 600 clientes por dia. Os pratos partem de R$ 24,90. Entre os mais pedidos, estão a canja, o quarteto (derivado da a la minuta) e o prato do dia. A loja também vende salgados e tortas.
— Enfrentamos muitas dificuldades: crise econômica no país, pandemia, enchente... Depois, veio essa obra do Quadrilátero (Central), que demorou muito tempo para ficar pronta na Otávio Rocha — reclama o atual proprietário.
Na década de 1980, o Grupo Zaffari comprou a Indústria Alimentícia Haiti Plic Plac Ltda, onde era feito o Café Haiti. Por isso, acabou ficando com a tradicional marca, reconhecida pelo jingle "Tá fazendo na cozinha, tá cheirando aqui". A varejista segue comercializando o café embalado nos atacarejos da bandeira Cestto.