Nesta terça-feira (11), Porto Alegre registrou a maior temperatura do ano, alcançando a marca de 39,8°C por volta das 16h, em termômetro analógico do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) do Jardim Botânico. Apesar do aumento exponencial do calor durante a tarde, antes mesmo do meio-dia, já havia pontos da cidade com mais de 35ºC.
Essa temperatura elevada pôde ser registrada em vídeo, com a ajuda de uma câmera termográfica, que produz mapas de calor. Nesta terça, a reportagem de Zero Hora visitou diferentes pontos da cidade para verificar as temperaturas registradas em superfícies expostas ao calor, algumas com mais de 60ºC.
O equipamento foi cedido pela professora Angela Borges Masuero do Departamento de Engenharia Civil e do Programa de Pós-graduação (PPG) em Engenharia Civil: Construção e Infraestrutura, da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
As engenheiras civis Maria Eduarda da Silva Dembogurski, 29 anos, e Caroline Giordani, 33, acompanharam as aferições e explicam que a câmera termográfica é comumente utilizada para estudos e perícias de engenharia. Com o equipamento, é possível visualizar anomalias em fachadas, como bolsões de água e de ar, por exemplo.
Medições
No Parque da Redenção, por exemplo, a temperatura do ambiente chegava a 37ºC por volta de 11h30min. A umidade relativa do ar era 34% — o percentual recomendado pela Organização Mundial da Saúde é de 50% a 60% para evitar problemas respiratórios e outros tipos de complicações físicas.
Na sombra, a temperatura registrada no parque chegou a 36ºC no fim da manhã. Na Fonte Francesa, onde um grupo de trabalhadores cortava a grama, a temperatura ficou em 35ºC.
Por volta de meio-dia, em uma das quadras de futebol do parque, onde um grupo de jovens praticava esporte, o mapa de calor registrou pontos com 51ºC. Já no arco da Redenção, onde alguns corredores e ciclistas se arriscavam a enfrentar o sol do meio-dia, foram registrados pontos com até 38ºC.
Os bancos do parque estavam praticamente vazios. Em alguns deles, as temperaturas chegavam a 54ºC. Em outros, o mapa de calor indicava 63ºC.
A cerca de 3 quilômetros dali, no Viaduto da Conceição, próximo à rodoviária, o calor do asfalto chegava a 54ºC pouco antes das 13h. No sapato do repórter fotográfico Mateus Bruxel, a aferição passou dos 60ºC.
No Viaduto Otávio Rocha, no Centro Histórico, que ficou exposto ao sol durante toda a manhã, a medição chegou a 42ºC por volta de 13h30min, quando o local já estava protegido pelas sombras dos prédios.
Estratégias contra o calor
Morador do Centro, o arquiteto Leonardo Valerão Oliveira, 29 anos, costuma voltar do almoço para o trabalho caminhando pelo viaduto Otávio Rocha. Para se proteger do sol, ele acrescentou um novo acessório à sua rotina: um leque. Ele comenta que tem procurado se hidratar o máximo possível para enfrentar o calorão e refletiu sobre os motivos para a elevação das temperaturas:
— Eu moro aqui há 29 anos e nunca passei por um calor como esse. Ao mesmo tempo que estamos discutindo a exploração de petróleo na Amazônia, isso está acontecendo. Vejo um futuro muito dual e contraditório, em que ao mesmo tempo vemos evidências claras do aquecimento global, mas não parece que as autoridades estão levando isso tão a sério como a nossa saúde está levando — comenta.
No entorno do Mercado Público, no Centro Histórico, a temperatura das superfícies chegou aos 40ºC por volta das 14h.
Morador de Gravataí, José Amilton Teixeira, 71 anos, trabalha como taxista há quatro décadas. Ele conta que após as 10h, quando acaba a sombra na lateral do Largo Glênio Peres com a Avenida Borges de Medeiros, onde uma fila de táxis fica estacionada no sol, ele busca abrigo onde consegue.
— Eu nem tenho almoçado mais, tenho comido sanduíches, e bebido muita água para não passar mal — pontua.
Longe dali, na pista de skate do trecho 3 da orla do Guaíba, o mapa de calor chegou a 58ºC por volta de 15h. Na sola do sapato, a temperatura chegava aos 50ºC.
Mesmo no ápice do calor, o skatista Adriano Barata, 51 anos, decidiu aproveitar a folga do seu trabalho como autônomo para fazer manobras na pista às margens do Guaíba. Morador do bairro Guarujá, na Zona Sul, ele conta que ajudou a construir a pista.
— Eu venho aqui direto. A gente não consegue ficar sem andar, então aproveitei que estava de folga dediquei o dia pra fazer um esporte, mas esse calor está surreal — comenta.