
O governo do Paraguai anunciou nesta terça-feira (1º) que convocou o embaixador do Brasil no país, José Antônio Marcondes, para cobrar explicações sobre o suposto monitoramento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) aos sistemas do governo do país vizinho. As informações são do portal g1.
Em depoimento à Polícia Federal (PF), um funcionário da Abin afirmou que a atual gestão da agência teria mantido operações de invasão hacker a sistemas do governo do Paraguai e de autoridades envolvidas nas negociações sobre tarifas da usina de Itaipu.
Atualmente, os dois países estão em fase de negociações sobre o Anexo C, parte do acordo de construção da Usina de Itaipu que define as condições de comercialização da energia gerada.
Em coletiva de imprensa, o chanceler do Paraguai, Rubén Ramírez, classificou o tema como "delicado" e ressaltou que o Brasil precisa esclarecer as possíveis interferências.
O líder da equipe técnica paraguaia responsável pelas negociações com o Brasil no âmbito do acordo de Itaipu, ministro de Indústria e Comércio, Javier Giménez García de Zúñiga, declarou que os debates sobre o tema estão suspensos até que a questão seja esclarecida.
Monitoramento
A Polícia Federal instaurou um inquérito nesta segunda-feira (31) para investigar um possível vazamento de informações relacionadas à apuração sobre uma estrutura paralela existente na Abin, que teria utilizado ferramentas e serviços da agência para a prática de ações ilícitas.
Em depoimento, o funcionário da Abin afirmou que a atual gestão da agência manteve operações de invasão hacker a sistemas governamentais do Paraguai, incluindo o Congresso, a Presidência da República e autoridades envolvidas nas negociações da usina de Itaipu.
Segundo o relato, o objetivo da ação era obter dados sigilosos sobre valores em negociação no Anexo C do Tratado de Itaipu.
O servidor afirmou que os ataques começaram ainda no governo Jair Bolsonaro, mas continuaram durante o governo Lula, com autorização expressa do atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa, e do diretor interino Saulo de Cunha Moura, que ocupou o cargo entre março e maio de 2023.
Em nota, o governo Lula afirmou que interrompeu a ação assim que tomou conhecimento dela, em março de 2023.
"O governo do presidente Lula desmente categoricamente qualquer envolvimento em ação de inteligência, noticiada hoje, contra o Paraguai, país membro do Mercosul com o qual o Brasil mantém relações históricas e uma estreita parceria. A citada operação foi autorizada pelo governo anterior, em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da Abin em 27 de março de 2023, tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato", diz nota divulgada pelo governo federal.
Anexo C
Os governos brasileiro e o paraguaioOs governos brasileiro e paraguaio estão em negociações sobre o Anexo C, que estabelece as condições para a comercialização da energia gerada por Itaipu.
Com a renegociação, a expectativa é que o Paraguai possa vender o excedente de energia gerada pela usina no mercado livre.
Além disso, o governo brasileiro busca encerrar a obrigação de compra da energia de Itaipu por distribuidoras do Sul, Sudeste e Centro-Oeste – as chamadas "cotistas".
A intenção é que essas distribuidoras não sejam mais obrigadas a adquirir a energia do Paraguai a partir do final de 2026.