Quando criança, eu costumava ler os contos de fadas até o fim. Na última página, lá estava a frase triunfante: “e viveram felizes para sempre”. Definitiva, inabalável, como se a felicidade fosse um estado permanente. Acreditei por um tempo. Não sei se era no “felizes” ou no “para sempre”, mas algo ali me enchia de esperança. Como eu podia saber, com tão poucos anos de vida, que felicidade é feita de instantes? Que não é uma casa onde se chega e se instala, mas algo que se constrói com muito improviso?
A adolescência chegou, trazendo um novo manual: as comédias românticas. Elas ensinaram que o amor tinha uma fórmula. Você suportava os desafios, esperava pelo final feliz e, pronto, o prêmio seria seu. Ingênua, eu tentava aplicar isso à vida real. Mas a vida, com sua insistência em ser o que é, mostrava outra coisa. Esperar não bastava, e o destino, ao contrário do que eu pensava, não era um roteirista confiável.
Descobri aos poucos que amar é um exercício de vulnerabilidade e coragem. Não há manual, apenas tentativa e erro. Conviver é lidar com as fraquezas do outro enquanto você tenta entender as suas. Há dias em que eu me sinto insuportável, para mim e para o mundo. Sou a flecha, a arma engatilhada, o vulcão que explode sem aviso. Nesses dias, me pergunto: como alguém pode me amar assim? Se nem eu consigo.
Amar não é sobre eternidade. É sobre o agora. São os pequenos gestos – uma mensagem que chega quando o silêncio pesa, uma visita no meio da semana, o respeito ao espaço do outro. Não é o amor grandioso que as histórias prometiam. É o amor que não faz promessas, mas permanece. Que não busca ser épico, apenas cotidiano.
Há algo poderoso nesse cotidiano. O jeito como ele percebe minhas ausências antes que eu mesma note. Como uma ligação despretensiosa no meio da tarde pode mudar o tom do meu dia. Ou o riso que compartilhamos quando nada parece fazer sentido. Esses momentos, tão pequenos e quase invisíveis, são os alicerces que sustentam algo imenso.
Sim, a solidão tem sua facilidade. Já pensei várias vezes em voltar para ela. A vida seria só minha, a bagunça de existir não seria compartilhada. Mas aí olho para a nossa rotina improvisada, para o jeito que ele me olha mesmo de longe, e percebo que o amor pode existir mesmo sem partilhar um teto. E, a cada dia, escolhemos ficar um na vida do outro. Não porque seja fácil, mas porque vale.
Amar também é ter um lugar para descansar a cabeça e a alma. Não porque o outro resolve tudo, mas porque está ali, segurando firme o que pode. É a sensação de ter alguém que enxerga suas dores e ainda assim escolhe ficar. O amor é um abraço que não exige perfeição, um convite constante para ser quem somos.
Ele não pediu para ser eterno, não prometeu que seria fácil, mas é constante como a manhã que sempre volta. E é também calor — aquele que não queima, mas aquece quando o mundo parece frio. É o prazer de partilhar tanto os dias bons quanto os difíceis.
Aprendi que o amor não precisa de mítica grandiosidade para ser verdadeiro. Ele é um presente contínuo, uma decisão diária. Não vive de finais felizes, mas de meios: o meio da rotina, das crises, das alegrias inesperadas. O amor não me prometeu nada, mas, mesmo assim, ficou.