Êta, vida boa! Boa que só, boa de fazer a gente respirar fundo e pensar “ô sorte!”. O mundo não acabou ontem, a gente acordou hoje e ainda sabe o valor do nosso próprio nome. Tá de pé, tá seguindo, tá vivendo. E, olha, isso já é coisa demais.
Boa porque tem água saindo da torneira e quente no chuveiro, e me diga, tem luxo maior do que banho quente no fim do dia? Tem não! A gente entra debaixo daquela água e sente o peso do mundo escorrer ralo abaixo. Fecha os olhos, respira, agradece. Boa porque tem comida na geladeira, pão na mesa e até um cafezinho passado na hora. Caro que só ele, mas ah... O cheiro! O cheiro do café invadindo a casa de manhã cedo, puxando a gente pra vida, dizendo que o dia já começou. O café anda valendo ouro, mas enquanto der pra coar um pouquinho e beber em silêncio, vai valer a pena.
E a despensa? Não tá transbordando, mas também não tá vazia. Tá justa, do tamanho certo. Dá pra cozinhar um arroz com feijão bem temperado, botar uma farinha por cima e comer com gosto. Quem já passou aperto sabe: isso é vitória! Já foi dia de contar moeda, de torcer pro gás durar, de fazer mágica no mercado. E se hoje não tá sendo esse dia, só por isso já vale um “obrigada, meu Deus”.
Êta, vida boa! Porque tem teto pra cobrir a cabeça e travesseiro que acolhe. E tem criança dormindo tranquila, crescendo segura, indo pra escola e aprendendo o que tem que aprender. Você olha pra ela e vê futuro. Um futuro que é o seu suor que constrói. Um dia de cada vez, um boleto de cada vez, mas constrói. Você dorme exausta, mas com aquela sensação de missão cumprida. E, olha, tem coisa melhor?
E os bichos? Ah, os bichos! Tem gato barrigudo de ração e passarinho que canta na janela sem a menor preocupação com o preço do arroz. A vida segue, e eles sabem disso melhor que a gente. Porque o afeto nutre, né? Nutre a gente, nutre eles, nutre tudo.
E tem gente que ama a gente. Sempre tem. Pode ser o filho, o amigo, o amor, o vizinho que faz graça na calçada. Tem um “bom dia” que chega sincero, um “se cuida” que vem do coração. Tem o moço da padaria que já sabe que você gosta do pão mais moreninho, a moça do mercado que brinca contigo. E se não tiver também, azar, porque ainda tem você. Você que segurou as pontas, que não largou do próprio destino, que fez das tripas coração e chegou até aqui.
Êta, vida boa! Boa porque ainda dá pra rir, pra dançar sozinha na cozinha, pra abrir um pacote de bolacha (ou biscoito) e comer sem pressa, vendo a vida passar pela janela. Boa porque tem pôr do sol bonito todo santo dia, e a gente tem olhos pra ver. Tem aquele vento fresco no fim da tarde que bate no rosto e traz um alívio bom. Tem a noite que chega devagarinho, trazendo silêncio, descanso, a certeza de que mais um dia se foi e que, de alguma forma, deu tudo certo.
E se hoje não foi bom, se hoje a cabeça pesou, se não deu pra sentir essa alegria, tudo bem também. Amanhã tem mais vida, tem mais chance, tem mais café – caro, suado, mas ainda quente e cheiroso.
Mas se hoje deu, se hoje você olhou em volta e sentiu aquele respiro de gratidão, mesmo que seja só pelo básico, só pelo essencial, então, caríssimos... Êta, vida boa!