Nunca entendi como os carros funcionam. Meu pai bem que tentou me explicar diversas vezes sobre a mecânica e a lógica toda do negócio, porém sempre foi em vão. A ideia agravou quando eu entrei na autoescola e cheguei à conclusão (talvez precipitada) de que jamais aprenderia a controlar um carro por conta própria. Eu bem lembro o primeiro dia em que sentei no banco do motorista e a instrutora me encarou, provavelmente mais assustada do que eu, e perguntou: Você está pronto?
É claro que não!, pensei.
Acontece que alguns medos acabam sendo maiores do que deveriam ser, isso porque permitimos que eles sejam. Simples assim. A minha primeira arrancada certamente poderia virar cassetada do Faustão, mas aos poucos eu fui melhorando. Tempos dois, já com a carteira de motorista em mãos, eis que surgiu um novo trauma: sair do circuito da autoescola e encarar o “trânsito da vida real”.
O resultado foi deprimente. Afinal, levei quatro anos entre o momento que tirei a carteira de habilitação e o dia em que efetivamente comecei a dirigir. Nesse meio tempo, medo e alguns sinais de desistência. Dirigir não era para mim e eu estava certo disso. Até o dia em que, com a posse do meu primeiro carro, resolvi colocar o pé no acelerador outra vez. E foi aí que o carro não funcionou.
A minha primeira e mais óbvia reação foi chorar. O que pareceu foi que aquele momento de inédita e súbita coragem havia sido naufragado por conta de alguma força maior. Sentado no banco do carro com a bateria provavelmente zerada, ainda na garagem, eu criei umas vinte teorias sobre o porquê de aquilo estar acontecendo.
Meu pai não estava em casa para ajudar, o que só piorou a situação mais ainda. Ao pedir ajuda para a minha mãe, ela foi direta: tá chorando por quê? Chorar não resolve nada.
Dias depois a ideia passou a fazer sentido. Se eu paro e penso de modo literal, chorar não resolve nada mesmo. Até onde eu saiba, baterias de carro ainda não se recarregam com lágrimas. Permanecer sentado durante quinze minutos xingando e procurando motivos diversos também não iria me ajudar muito.
Então nós resolvemos agir.
Eu falo nós porque naquele dia a minha mãe teve que dar o exemplo: quando algo acontece, o negócio é resolver. Arregaçamos as mangas, traçamos a solução mais prática, e aí então fomos atrás de efetivá-la. E não é que deu certo?
Um pouco depois o problema estava resolvido. Desde então, eu tenho tentado aplicar a mesma ideia para tudo aquilo que acontece no meu dia a dia. Sem tempo para chorar e com tempo de sobra para seguir adiante.